Chefe de polícia do RJ pede que se "cheire menos"

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Por Agencia Estado
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Em palestra para cerca de 70 advogados, o chefe de Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, disse que "as pessoas têm que cheirar menos (cocaína) para que os crimes diminuam". Procurado pela reportagem após o encontro, na sede da OAB-RJ, o delegado afirmou, referindo-se à declaração, que "o usuário estimula a violência". "Temos que ter mecanismos para que o dependente seja tratado e consiga sair do vício", declarou. Ele anunciou uma operação conjunta das polícias Civil e Militar para "garantir que a noite volte a ser ocupada por pessoas". "A gente verifica que a população está com medo, então vamos para as ruas fazer esse movimento, a partir das 19 horas de hoje." A operação - que deve envolver mais de três mil agentes - marca a volta dos policiais civis às ruas da cidade, o que não acontecia desde a década de 80. Teixeira disse que o problema central do Estado é o tráfico de entorpecentes, mas afirmou ser contra a descriminação das drogas. "O Estado não tem condições de fazer isso. O viciado é uma questão de saúde pública. Você vai fazer o quê, vender droga nas esquinas?" No início de sua gestão, em abril, o secretário da Segurança Pública, Roberto Aguiar, que hoje estava em Brasília, se disse favorável à descriminação da maconha, "desde que seja de maneira responsável, com precisão e controle". "Sabemos que não produzimos armas nem drogas, mas não podemos ter esse discurso simplório, temos que atuar, estamos buscando verificar quem está ganhando dinheiro com isso, quem financia o tráfico", disse Teixeira. "Até jovens de classe média não têm oportunidade de emprego, e o tráfico paga mais que o mercado formal. O Estado tem que disputar seus jovens com traficantes." O chefe de Polícia negou, porém, a existência de um Estado paralelo no Rio, como afirmara o ministro da Justiça, Miguel Reale Jr., e o presidente do Tribunal de Justiça, Marcus Faver. "Se tivéssemos um Estado dentro do Estado não estaríamos na favela buscando o corpo do (repórter) Tim Lopes. Temos, sim, áreas conflagradas, em que existem conflitos, mas não há um Estado paralelo organizado", disse o delegado. "Na Colômbia, houve até separação de territórios. Aqui não temos isso, a polícia entra em todo local, não há área de exclusão. As pessoas estão indo aos bancos, vão aos mercados, fazem suas atividades." Durante o encontro na OAB, Teixeira ouviu o secretário de Justiça do Estado, Paulo Saboya, dizer que atualmente há 18 mil pessoas encarceradas no sistema penitenciário do Estado, 6 mil presos irregularmente em delegacias e 42 mil mandados de prisão a serem cumpridos. "Se todos forem cumpridos, não tenho onde colocá-los. Teria que dar senhas", disse Saboya em sua palestra. Depois, procurado por jornalistas, Teixeira declarou: "Ele vai ter que arrumar senha. Minha função é prender", referindo-se à operação que seria iniciada nesta noite. "A autoridade precisa ser resgatada. A polícia está limitada legalmente, sem condições de ação imediata, porque não pode expedir mandado de busca e apreensão, presa a amarras legais", disse o delegado. Pela manhã, governadora Benedita da Silva (PT) e o prefeito Cesar Maia (PFL) se encontraram para discutir ações conjuntas na área de segurança como a criação de um fundo de segurança. "Na medida em que a governadora pôr na rua mais um policial, a prefeitura vai bancar esse homem", disse Maia. Outro acordo possibilitará o uso de câmeras da CET-Rio - utilizadas no controle de trânsito - na segurança.

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