Cheia de galpões, Barra Funda vira novo polo teatral

Alternativos agitam o bairro; curso de Artes Cênicas da Unesp se mudará para a vizinhança nesta semana

PUBLICIDADE

Por Edison Veiga
Atualização:

Meio-dia de quinta-feira. É o segundo dia de apresentação da peça Quem Não Sabe Mais Quem É, o Que É e Onde Está Precisa se Mexer, da Cia. São Jorge de Variedades. Pelas ruas da Barra Funda, o espanto das pessoas é grande. Os primeiros 15 minutos da encenação ocorrem do lado de fora do teatro, um galpão que há dois anos abriga a sede do grupo e agora, pela primeira vez, é aberto ao público. Na frente do histórico e tradicional Theatro São Pedro, inaugurado em 1917, a atriz Mariana Senne proclama: "Eu não sou Hamlet. Eu não represento mais nenhum papel. As minhas palavras já não me dizem mais nada." Praticamente uma metáfora da nova onda de teatros alternativos que domina o bairro. Casa de São Jorge, Casa Livre, Grupo Tapa, Casa Laboratório, Galpão do Folias, Balagan, Confraria da Paixão, Casulo Espaço de Cultura e Arte... São pelo menos oito espaços alternativos que, nos últimos anos, ocupam endereços nos arredores da Barra Funda. Todos abrigam estudos e ensaios de suas trupes e boa parte tem aberto as portas para o público em geral. "Não podemos só ficar olhando para o próprio umbigo", comenta Sandro Borelli, diretor do Casulo, aberto em janeiro. "Em abril, devemos ter espetáculos em cartaz." As explicações para essa "invasão artística" são simples. O bairro é próximo do centro, bem servido por transporte público e cheio de antigos galpões que podem ser aproveitados como espaços teatrais. "É um lugar que vem se revigorando", acredita Cibele Forjaz, diretora da Casa Livre, cujo primeiro espetáculo aberto ao público na sede própria, Vemvai - O Caminho dos Mortos, está em cartaz há pouco mais de um mês. "A gente está lendo umas histórias muito loucas sobre a Barra Funda, como tudo se transformou da chegada do trem ao atual estágio de exploração imobiliária", completa Georgette Fadel, da Casa de São Jorge. "Barra Funda é uma barafunda." Um dos pioneiros por ali foi o Galpão do Folias. "Na época (em 1998), foi uma escolha circunstancial", explica um dos gerentes do grupo, Carlos Francisco. "Viemos porque nosso galpão era um bom espaço para o tipo de proposta que apresentamos." Há sete anos , a Confraria da Paixão também montou sua sede na Barra Funda. "Tínhamos uma certa relação com o bairro, pois alguns atores moravam por aqui", lembra o diretor, Luiz de Assis Monteiro. Muitos pretendem se envolver cada vez mais com a comunidade próxima. "Queremos fazer um trabalho de produção de audiolivros, exercitando nosso trabalho vocal, para os cegos da Fundação Laramara, aqui perto", diz Cacá Carvalho, diretor da Casa Laboratório. "Morador da Barra Funda paga 25% do valor do ingresso", divulga Mariana Senne, da Casa de São Jorge. Soma-se a esses redutos alternativos um dos três endereços da Fundação Nacional de Artes (Funarte) em São Paulo. Na Alameda Nothmann, no vizinho bairro de Campos Elísios, o prédio de 1,2 mil m² passou por uma reforma que durou dois anos e tem um auditório moderno. Mas a grande novidade no circuito cultural do bairro é a inauguração do câmpus do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ao lado da Estação Barra Funda do Metrô. Dentre os cursos oferecidos ali a partir de segunda-feira está o de Artes Cênicas. O prédio tem sete espaços para apresentações: dois teatros, um circo e quatro salas para eventos menores. "Pretendemos abrir ao público em geral", fala o diretor Marcos Pupo Nogueira. "Vamos dialogar bastante com o bairro", diz o coordenador do curso, Wagner Cintra. ENDEREÇOS Balagan: Rua Olga, 444; tel.: 3667-4596 Casa de São Jorge: Rua Lopes de Oliveira, 342; tel.: 3824-9339 Casa Laboratório: Conselheiro Brotero, 182; tel.: 3661-0068 Casa Livre: Rua Pirineus, 107; tel.: 3564-3663 Casulo: Rua Sousa Lima, 107; tel.: 3825-2711 Confraria da Paixão: Rua Lopes de Oliveira, 659; tel.: 3667-3497 Galpão do Folias: Rua Ana Cintra, 213; tel.: 3361-2223 Grupo Tapa: Rua Lopes Chaves, 80; tel.: 3662-1488

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.