PUBLICIDADE

Churrascaria argentina agora com carne nacional

Problemas de abastecimento obrigam estabelecimentos a oferecer, pela 1.ª vez, cortes brasileiros; preços aumentaram, e porções diminuíram

Por Bruna Fasano
Atualização:

O restaurante Martin Fierro, em funcionamento há 28 anos e precursor das churrascarias argentinas em São Paulo, está, pela primeira vez, assando cortes bovinos brasileiros. Por causa de problemas de abastecimento, a casa montou há dez dias um cardápio com carnes daqui. A proprietária Ana Maria Massochi avisa aos clientes que está sem o produto argentino. "Tive de fazer um novo menu, porque a única carne argentina que eu tenho é a picanha e, mesmo assim, em quantidade pequena." Há três meses o restaurante não recebe o produto, por causa de problemas de exportação de carne bovina da Argentina. Desde terça-feira há contêineres à espera de autorização para serem embarcados para o Brasil. No mês de maio, os preços de alguns cortes argentinos apresentaram aumentos de quase 100%. É o caso do noix, um dos produtos campeões de pedidos, que teve um acréscimo de 93% no valor total. Antes, o noix custava R$ 48,50, o bife com 450 gramas; hoje, uma porção menor custa R$ 53,50. Até mesmo a picanha argentina ficou mais salgada e dobrou de valor. "Não posso repassar esses valores para os clientes, senão assusto os fregueses, por isso decidi criar um cardápio com carnes nacionais", diz Ana Maria. Para rebater a crise e diminuir os efeitos, pratos como o bife à milanesa sofreram uma redução no tamanho da porção. O que antes pesava 180 gramas de pura carne argentina, hoje é grelhado com 160 gramas de carne nacional, com um aviso aos clientes e preço diferente. Já o restaurante 348 Parrilla Porteña está há 115 dias assando apenas carnes vindas do Uruguai. O bife ancho, que antes custava R$ 23 o quilo, hoje não sai por menos de R$ 43. Eduardo Sanpalla, proprietário da casa, afirma que mesmo as carnes uruguaias elevaram seus preços por causa do aumento da procura. "Estou pagando, em média, 30% mais no preço da carne que vem do Uruguai e tive de reajustar os preços em 10%", lamenta. Em 11 anos de funcionamento, é a primeira vez que o restaurante não tem nenhum corte de carne argentina para colocar na grelha. Para Gabriel Mihaly, gerente do restaurante El Tranvía, o aumento do preço da carne uruguaia atingiu 40%. Quando sentiu a crise de abastecimento se aproximar, ele fez encomendas maiores do produto argentino, por isso ainda consegue oferecer aos clientes carnes na brasa como o bife ancho e a costela grelhada. "Não aumentei os preços dos pratos porque estoquei alguns cortes, mas se a crise se prolongar, acho que teremos de rever a decisão", afirma. Para Milton Turolla, gerente do restaurante Pobre Juan, o contrafilé, parte do boi de onde é retirado o bife ancho, custou-lhe 40% a mais do que o valor normal. "Tivemos de diminuir a margem de lucro e sacrificar um pouco as grandes porções, para manter o abastecimento e atender aos clientes", afirma. Ele acredita, porém, que a crise deve se solucionar já no mês de julho. CARNE BRASILEIRA O preço da carne nacional também sofreu reajustes. Entre os meses de março e maio, a alta do preço da carne bovina acumulou um aumento de 10,26%. O consumidor pagou, em média, 22,89% a mais pelo quilo de carne em comparação ao mesmo período do ano passado. De acordo com a Associação Brasileira de Frigoríficos, a produção e o abate de carne só deve ser normalizado dentro de um ano e meio. Até lá, os valores cobrados pelo quilo da carne terão reajustes consecutivos. E o churrasco vai ter de esperar.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.