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Chuva, racha no PT. E Marta de férias em Paris

A prefeita de São Paulo pediu sessões extraordinárias na Câmara para votações, mas tirou férias

Por Agencia Estado
Atualização:

Ao decidir "divulgar a cidade no exterior" durante o Fórum Econômico Mundial, na Suíça, e depois tirar férias em Paris até a semana que vem, a prefeita Marta Suplicy (PT) deixou para trás problemas que vão desde os transtornos da chuva até o embaraço político na Câmara. Deixou para a volta decisões importantes, como a definição do novo secretário da Educação. Desde o dia 9, a secretaria é comandada pela chefe de gabinete, Maria Aparecida Pérez. Antes da pausa, a prefeita decidiu interromper o descanso dos vereadores, que estavam em recesso, e convocou a Câmara para analisar 13 projetos em sessões extraordinárias. Entre eles, as correções no IPTU e a taxa do lixo. Os vereadores votaram as alterações, mas o clima azedou quando o líder do governo, José Mentor (PT), insistiu em votar a anistia aos corredores comerciais em Z-1 - uma das prioridades da prefeita. A bancada do PT rachou, empurrou a votação para ontem e, de sobra, o rebelde vereador Carlos Giannazi (PT) propôs uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os corredores, expondo o governo a mais um desgaste. A discussão sobre os corredores acabou respingando em outro projeto importante para o governo, o "via rápida", que só foi votado à noite. Temporais - Desde que Marta viajou, a chuva deixou 110 vias alagadas. O trânsito, mesmo nas férias, piorou. Ocorreram deslizamentos e da tragédia veio a informação de que a Prefeitura não sabe quantas famílias vivem em áreas de risco e tampouco conhece o número exato de tais locais. E chuva e viagens à Europa são um risco com precedentes na política nacional. Quando era governador de Minas, em 1997, Eduardo Azeredo sairia de férias dias antes de a chuva no Estado causar a morte de 79 pessoas, deixar 91 feridos e quase 41 mil desabrigados. Azeredo foi criticado por não ter voltado imediatamente, rebateu a crítica e não se reelegeu. Se bem que o termo férias não seja apropriado ao caso de prefeitos, governadores e presidentes. A lei não garante a eles, como em outros países, o direito a férias. Então, utilizam o mesmo expediente que Marta para ter descanso: pedem licença do cargo. Outros governantes não conseguem tal distância do trabalho. No cargo desde março de 2001, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) não tirou férias. Mário Covas, que se lembrem amigos próximos e assessores, tentou tirar uma semana de férias depois da eleição de 1998, mas voltou antes disso para resolver problemas do governo. Marta também voltará em meio a dificuldades, em 5 de fevereiro. Na Câmara, além do racha no partido e das votações demoradas, o Ministério Público Estadual (MPE) investiga a eleição do vereador Arselino Tatto (PT) para a presidência da Casa. Além disso, o vereador Gilberto Natalini (PSDB) afirmou que nenhuma decisão importante pode ser tomada nesse período. "A máquina anda sozinha, mas o vice não pode tomar nenhuma decisão importante." O vereador Ítalo Cardoso (PT) saiu em defesa de Marta. "Se a prefeita tivesse uma bola de cristal e adivinhasse que ia chover tanto, duvido que sairia", disse. "Ela é um ser humano e não há problema algum em tirar uma semana de descanso." O período escolhido, segundo ele, não faz diferença. "Em qualquer período do ano a prefeita faria falta, mas os secretários estão aí justamente para cuidar da cidade." O secretário do governo, Rui Falcão, não quis comentar o descanso da prefeita. A Assessoria de Imprensa do Palácio das Indústrias informou que o balanço das viagens ao exterior é positivo, com acordos assinados para fomentar e apoiar programas municipais. Programas e viagens que fizeram a prefeita se ausentar pelo menos 11 vezes de seu cargo em jornadas pelo País e pelo mundo - desde os Estados Unidos até o Japão e da Argentina a Paris. Além disso, ela foi constante companheira do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em viagens de campanha. Mas o vice-prefeito, Hélio Bicudo, não pode ser apontado como alguém que faz número na equipe. Nos dias em que substitui a prefeita, sancionou leis, vetou outras, assinou decretos, fez os despachos habituais do cargo, concedeu audiências e representou a cidade em eventos nacionais. Ontem, por exemplo, estava em Brasília para o lançamento do Programa Fome Zero, e a cidade passou o dia sem seus prefeitos.

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