Chuvas matam duas crianças em Alagoas

Situação é crítica também no Amazonas e no Ceará, onde cheias dos açudes e rios que ameaçam cidades

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Por Liege Albuquerque , Tiago Décimo , Ricardo Rodrigues , Carmen Pompeu e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

A coordenação da Defesa Civil Estadual divulgou na tarde desta quarta-feira, 13, um balanço das chuvas em Alagoas. Segundo o coronel Jadir Ferreira, comandante do Corpo de Bombeiros e coordenador estadual da Defesa Civil, duas pessoas morreram e várias ficaram feridas, vítimas de desabamentos de barreiras, quedas de casas e muros.

 

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O coronel Jadir esclareceu que o acidente ocorrido em Satuba, a 18 quilômetros de Maceió, envolvendo dois carros na Ladeira do Catolé, deixou quatro pessoas feridas, mas as mortes de duas crianças que teriam sido afogadas no rio não foram confirmadas.

 

"Só confirmamos as mortes das duas crianças vítimas de deslizamento de barreira no município da Barra de São Miguel", afirmou o coronel Jadir. Segundo ele, da meia-noite de ontem até as 7 horas da manhã de hoje, foram registradas 42 ocorrências provocadas pelas chuvas, a maioria em Maceió.

 

No interior do Estado, as cidades do Litoral e na região metropolitana foram as mais atingidas. As chuvas também atingiram o Sertão de Alagoas, provocando estragos e deixando várias cidades sem energia elétrica, por causa da queda de uma linha de transmissão da Chesf, entre as cidades de Canapi e Santana do Ipanema.

 

A maior tragédia foi registrada na Barra de São Miguel, a 35 quilômetros da capital, onde duas crianças morreram e três pessoas ficaram feridas após um deslizamento de barreira, que teria destruído uma casa. Um dos feridos recebeu atendimento médico no local e os outros foram encaminhados para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde estão internados.

 

Entre os feridos está um bebê recém-nascido, que estava com a mãe na hora do desabamento. Até o início da tarde, o bebê continuava internado na Unidade de Terapia Intensiva do HGE, mas sua mãe já estava bem. Os corpos dos irmãos mortos - uma menina de 4 anos e um menino de 6 - foram encaminhados ao Instituto Médico Legal Estácio de Lima (IML), em Maceió.

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Na capital, a Defesa Civil Municipal registrou deslizamentos na Grota do Estrondo, no bairro do Feitosa, e na rua Triunfo, no Jacintinho. Nenhuma casa foi atingida e ninguém ficou ferido. Também foi registrado deslizamento de barreira na Chã da Jaqueira, próximo ao posto de saúde do bairro.

 

No bairro da Pitanguinha, uma barreira deslizou. Os moradores foram desalojados e temem que outras casas caiam por cima deles. Por causa de um deslizamento registrado no bairro do Feitosa, a avenida Leste-Oeste ficou com um lado da via interditado. Agentes da Superintendência de Transporte e Trânsito estiveram no local para tentar desobstruir a avenida.

 

A assessoria da Companhia Energética de Alagoas (Ceal) informou que cinco bairros ficaram sem energia por causa das fortes chuvas. A Companhia disse ainda algumas cidades do interior também ficaram sem energia elétrica, por causa das chuvas. A Comissão Estadual de Defesa Civil calcula que cerca de 20 famílias perderam suas casas estariam abrigadas na casa de amigos.

 

Um acidente na BR-316, no município de Satuba deixou quatro pessoas feridas. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, um Fiat Uno e um Pálio colidiram lateralmente. Com o impacto da colisão, o Pálio caiu no riacho. No início da manhã, chegou-se a noticiar que duas crianças teriam morrido nesse acidente, mas as mortes não foram confirmadas.

 

Bahia

 

Dois dias de estiagem não foram suficientes para tirar da população de Salvador o temor de ter de enfrentar mais problemas causados pela chuva. O solo ainda encharcado, por causa de nove dias seguidos de precipitações, continua causando transtornos e prejuízos na cidade. Esta quarta-feira, 13, bastou que uma chuva de média intensidade caísse entre o fim da manhã e o início da tarde para que as ocorrências voltassem a surgir. A Defesa Civil da cidade registrou, até o fim da tarde, 11 desabamentos de imóveis e 69 deslizamentos de terra. Não há registro de feridos.

 

De acordo com o governo da Bahia, 1,67 milhão de pessoas foram diretamente afetadas pela chuva este mês, nos seis municípios do Estado que têm situação de emergência homologada pela administração estadual - Salvador, Lauro de Freitas, Simões Filho e Vera Cruz, na região metropolitana, além de Camacan e Mascote, no sul do Estado.

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Segundo a Coordenadoria de Defesa Civil da Bahia (Cordec), essas pessoas tiveram prejuízos com deslizamentos de terra, desabamentos de imóveis, quedas de árvores, fechamento de vias, suspensão de abastecimento de energia elétrica ou de água, entre outras ocorrências. Mais três municípios - Candeias, na região metropolitana, Casa Nova, no norte do Estado, e Guaratinga, no sul baiano - também decretaram estado de emergência por causa da chuva, mas ainda não tiveram a situação reconhecida pelo governo estadual.

 

Amazonas

 

A prefeitura de Manaus publicou nesta quarta-feira, 13, no Diário Oficial do Município decreto de situação de emergência na capital. O decreto retira da prefeitura a obrigação de realizar licitações para compra de material de ajuda aos atingidos. Segundo a Defesa Civil Municipal, estima-se que 18 mil pessoas serão diretamente afetadas pela enchente em Manaus este ano, com mais de 3 mil casas totalmente alagadas. São pelo menos 19 bairros, que circundam Manaus, que devem sofrer mais com a enchente.

 

A casa da doméstica Maria da Penha Souza, de 60 anos, já está com água em todos os cômodos, com pelo menos 10 centímetros de altura. Moradora do bairro da Glória, ela diz que isso ocorre todos os anos, mas apenas em junho. "Estou com muito medo de neste ano ter de sair de casa, porque todo ano a gente levanta os móveis, fica pisando no molhado, mas não sai daqui", disse.

 

A previsão do Serviço Geológico do Brasil é que esta seja a terceira maior cheia dos últimos 50 anos no Amazonas, com as águas do Rio Negro alcançando a profundidade de até 29,60 metros. Perderia apenas para a primeira, em 1953, quando o pico da cheia do rio ficou em 29,69 metros e para a segunda, em 1976, quando o Negro alcançou 29,61 metros.

 

De acordo com o secretário municipal de defesa civil, Ary Renato, 3.289 casas da zona urbana de Manaus serão alagadas. Até terça-feira, 12, 1.913 já estavam nesta situação. Segundo dados da Defesa Civil, dos 19 bairros e comunidades que estão no mapa da enchente, as situações mais críticas são na Glória, São Raimundo e São Geraldo, na Zona Oeste. Além de distribuição de madeiras para construções de marombas (levantar assoalhos) e pontes, a Defesa Civil também elabora o plano de remoção das famílias a abrigos.

 

Ceará

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Além das chuvas, agora são as cheias dos açudes e rios que ameaçam cidades inteiras no Ceará. A situação é mais crítica no Vale do Jaguaribe, rio que abastece o maior açude cearense, o Castanhão. Em Morada Nova, com a cheia do Rio Banabuiú, 21 pequenos açudes - a maioria construída irregularmente - romperam e, ontem (12), a água alagou a cidade. Os moradores tiveram de correr para tirar objetos de dentro de casa.

 

Uma criança morreu afogada, mas o registro ainda não havia sido feito pela Defesa Civil do Estado. De acordo com o boletim das enchentes divulgado nesta quarta-feira, 13, à tarde, continua em 12 o número de vítimas fatais em decorrência das chuvas no Ceará. Os desabrigados - que perderam tudo e estão em abrigos públicos - chegam a 24.074 e os desalojados - que estão em casa de amigos e parentes - são 34.990.

 

Em Morada Nova, a água tomou conta até da Avenida Manoel Castro, a principal da cidade, onde ficam os prédios que abrigam a prefeitura, a delegacia e a Câmara de Vereadores. O expediente nos órgãos públicos foi suspenso. Os presos tiveram que ser transferidos para Fortaleza. Sete deles aproveitaram a situação para fugir.

 

As doenças afligem a todos. De acordo com o agricultor o Sérgio Menezes, ouvido por um jornal local, as crianças estão sofrendo com tosse, gripe e frieiras. A água também ameaça invadir o hospital da cidade.

 

De acordo com o secretário de Recursos Hídricos do Ceará, César Pinheiro, técnicos do Dnocs farão uma abertura em um canal de aproximação do perímetro irrigado do Tabuleiro de Russas, também no Vale Jaguaribano, para escoar a água que invadiu Morada Nova.

 

Em Itaiçana, a sede está alagada desde o início do mês. A administração mudou para o distrito de Alto Santo. O lugarejo passou a abrigar 60% da população da cidade, que tem oito mil habitantes.

 

Capaz de armazenar até 6,7 bilhões de m3 de água, o Castanhão está com 96,5% desse total. Devido ao grande acúmulo hídrico, quatro comportas do reservatório estão abertas desde o dia 24 de abril. No último sábado (09), a vazão teve de ser aumentada de 670 m3/s para 870 m3/s.

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A água liberada pelo Castanhão jorra no rio Jaguaribe, que suporta uma vazão de mil m3/s como limite. Mas a chuva aliada à sangria de outros pequenos açudes tem gerado um excedente hídrico, o que provoca as inundações.

 

Dos 131 açudes cearenses monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), 115 já sangraram. Apenas um deles, o Potiretama, deixou de sangrar. O volume acumulado desses reservatórios já atingiu 95,47% da capacidade total, que é de 17,8 bilhões de m3 de água. Segundo a assessoria de imprensa da Cogerh, a reserva de água nunca foi tão grande desde 1993, ano de criação do órgão e que faz o monitoramento.

 

A Cruz Vermelha, no Ceará, abriu três contas bancárias para receber doações para os atingidos pelas enchentes. As doações podem ser feitas na Caixa Econômica Federal, agência 3381, operação 003, conta 300/1; ou Banco do Nordeste, agência 016, conta 29393/8; ou Banco do Brasil, agência 3515/7, conta 11024/8.

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