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Chuvas no Recife são ‘consequências extremas’ do fenômeno La Niña, diz especialista

Com o aumento de ventos e massas de ar úmido, Norte e Nordeste passam por período de chuva anormal em 2022

Foto do author Bruna Arimathea
Por Bruna Arimathea
Atualização:

As chuvas que causaram mortes neste sábado, 28, no Recife podem estar diretamente relacionadas ao La Niña, fenômeno climatológico que causa o aumento de precipitações nas regiões Norte e Nordeste do País. Nesta madrugada, pelo menos 29 pessoas morreram vítimas de deslizamentos de terra na Grande Recife, informou a Defesa Civil de Pernambuco.

De acordo com Pedro Côrtes, geólogo da USP, o grande volume de chuva está sendo provocado pelo aumento dos ventos que sopram na direção do continente — que são típicos da região nesta época do ano. Esse fenômeno, intensificado em época de La Niña, converge massas de ar úmidas para o Norte e Nordeste, ocasionando fortes chuvas nos Estados. 

Chuvas intensas atingiram o município de Camaragibe, na região metropolitana do Recife (PE) Foto: Pedro de Paula

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Desde o ano passado, porém, com o período de enchentes na Bahia e em outros Estados da região, o volume de precipitação tem sido anormal mesmo para o período. Segundo Côrtes, o aumento da temperatura do Oceano Atlântico também é um fator que contribui para o aumento da umidade das massas de ar. O aquecimento, segundo ele, pode ter origem nas mudanças climáticas que ocorreram nos últimos anos. 

“Durante o La Niña, é comum que haja um aumento dos ventos na região equatorial e, com isso, que mais massas de ar úmido sejam carregadas para o interior do continente. O aquecimento do Oceano Atlântico não está ligado a esse fenômeno, mas foi uma coincidência que potencializou as chuvas no Norte e no Nordeste”, afirma Côrtes ao Estadão

Em média, foi possível registrar nesta madrugada um volume de chuva de 236,01 milímetros, valor que corresponde a mais da metade do registrado em todo o mês de maio de 2021, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Para este ano, o volume já representa 70% do total previsto para o mês. 

Outro fator determinante para os alagamentos é a própria estrutura litorânea da região. Por estar perto do mar, os rios que cortam a Grande Recife recebem um volume de água maior do que podem comportar. Assim, esses cursos não conseguem desaguar no oceano com facilidade, o que prolonga o escoamento da chuva. 

“Os fenômenos climáticos continuam estáveis há um tempo, tanto o El Niño quanto o La Niña. Mas há uma tendência grande no aumento da intensidade de como as consequências desses eventos atingem o continente”, explica Côrtes. 

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Para José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ainda é cedo para falar se a anormalidade das chuvas é, de fato, resultado do aquecimento global. “Mas o cenário futuro de clima mostra que esses extremos de chuva podem ser mais frequentes em uma área vulnerável, essas chuvas alcançam as consequências que podemos observar”, explicou Marengo ao Estadão.

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