Ciclovia, playground e pilates no cemitério

Em alguns pontos da Grande SP, pessoas se divertem entre os jazigos

PUBLICIDADE

Por Edison Veiga
Atualização:

Duas vezes por semana, a cabeleireira Priscila de Araújo Viana faz aula de pilates no cemitério. Em Mauá, na Região Metropolitana de São Paulo, existe desde 1996 um cemitério dedicado ao bem-estar dos vivos. "Desde o início nos preocupamos em quebrar o preconceito de que é um lugar tenebroso, de tristeza", afirma Ivani de Oliveira Ferraz, a administradora do Vale dos Pinheirais. As mudanças no trânsito no dia de Finados e o endereço dos cemitérios Com jeitão de parque, o espaço de 137 mil metros quadrados oferece - além da capacidade para 30 mil jazigos - lanchonete, playground, ciclovia, pista de cooper e um centro cultural. Este, em forma de uma inusitada pirâmide de vidro, serve para palestras motivacionais, apresentações musicais, massagens e aulas de ioga e pilates. "Nossa idéia é: se a pessoa compra o espaço no cemitério quando ainda está viva, por que não usar isso?", justifica Ivani. Quem compra um jazigo e paga a taxa de manutenção pode, com a família, desfrutar de toda a estrutura do espaço sem pagar mais nada por isso - nem pelas aulas. Os preços variam de R$ 4.994 a R$ 13.980. As sessões semanais de massagem e as aulas de ioga e pilates são as que atraem maior público. Juntas, cativam quase cem freqüentadores assíduos. Mas ainda há quem não entenda tão estranho rol de atividades em um cemitério. "Quem não conhece acha fora do normal", diz a cabeleireira Priscila. "Mas eu gosto muito do ambiente. Nem parece um cemitério." Abertos também a quem não tem jazigo ali, há cursos de noções de secretariado, artesanato e manicure, entre outros. Todos de graça. Hoje, por causa do Dia de Finados, a programação do Vale dos Pinheirais é bem movimentada. Haverá quatro missas e um encontro de oração, além de exames para diagnosticar câncer de garganta e diabetes, sessões de massagem e medição de pressão arterial. Quem visitar o Cemitério da Consolação hoje receberá um livreto que conta sua história e descreve as principais obras de arte que podem ser vistas ali. O material é assinado pelo sociólogo José de Souza Martins, colunista do Estado, e foi viabilizado graças a uma parceria entre as Secretarias de Serviços e de Cultura. Também será distribuído um mapa com a relação de personalidades ali enterradas, com a localização de seus túmulos. Há nomes como a pintora Tarsila do Amaral, o ex-presidente Washington Luís e o poeta Mário de Andrade. "Cemitério também é cultura", defende o secretário municipal, Carlos Augusto Calil. Ele antecipa que, para incrementar as visitações ao Cemitério da Consolação, até o fim do ano devem começar a ser feitas ali obras de "reurbanização interna". Túmulos serão restaurados, haverá intensa arborização e, sob as sombras, bancos devem ser instalados. Só o restauro do pórtico principal está orçado em R$ 150 mil. O maior cemitério do Brasil, que fica na Vila Formosa, na zona leste da capital, espera receber hoje mais de 150 mil pessoas. São 87 mil sepulturas distribuídas em uma área de 760 mil metros quadrados. De acordo com a administradora, Maria Lúcia de Carvalho, há um projeto para que seja feito ali dentro um parque contemplativo. "Sete mil mudas de árvores já foram plantadas", revela. "O próximo passo será a construção de uma pista de caminhada, de um espaço para leitura e de um local para a realização de cultos ecumênicos." Mesmo sem o tal parque, moradores já desfrutam do imenso espaço do cemitério. "De manhã, é comum ver gente caminhando por aqui", conta Maria Lúcia. "E crianças empinam pipas, principalmente em época de férias escolares."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.