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Cidade Tiradentes proíbe baile funk na rua

Nos últimos 4 meses, 24 bares também foram emparedados por funcionar depois da 1 hora

Por Diego Zanchetta
Atualização:

Como em outras partes da periferia paulistana, em Cidade Tiradentes o baile funk e a sinuca no boteco costumam atrair milhares de jovens sem opções baratas de lazer. Nas noites de sexta-feira, ruas do bairro, como a Cristiano Lobbe e a Metalúrgicos, eram fechadas para o "batidão" que varava a madrugada. "Tinha muita menina de 14 anos cheirando cocaína no meio do povão, coisa chocante. Ninguém conseguia dormir. A população começou a se revoltar também e algo precisava ser feito, várias ruas ficavam obstruídas até a manhã do dia seguinte", conta o subprefeito Renato Barreiros, de 30 anos. Há quatro meses, com o apoio de associações de moradores e da Força Tática da PM, foi montada no distrito do extremo da zona leste uma operação batizada de "Patrulha do Silêncio". No total, 24 bares foram emparedados e os bailes funks no meio das ruas acabaram. "Mesmo com o acompanhamento da polícia, é difícil", disse o subprefeito, ao apontar o vidro do carro oficial quebrado por uma pedrada. "Tentaram atirar essa pedra na gente quando tentávamos reabrir uma rua fechada para um sambão. Por isso tem de ter a Força Tática sempre junto." No lugar dos bailes, a Subprefeitura de Cidade Tiradentes passou a organizar festivais de funk durante o dia, nos fins de semana. Até um CD com os principais funkeiros do bairro foi gravado com o patrocínio do governo municipal. "Só não pode letra com apologia às drogas. Mas acho o funk parte da cultura local", afirma Barreiros, que mora em Moema e há dois anos "viaja" 80 quilômetros todos os dias para ir ao local de trabalho e voltar. A iniciativa do subprefeito divide a população e os comerciantes do distrito, onde moram cerca de 270 mil pessoas em 40 mil unidades habitacionais populares, num espaço de apenas 15 quilômetros quadrados. Os jovens reclamam que agora são obrigados a ir para os bailes em Itaquera e Guaianases. Os bares são obrigados a fechar as portas a partir da 1 hora. "A galera aqui já não tinha diversão. Agora, sem baile, ficamos dentro da Cohab sem fazer nada. À meia-noite a rua já está deserta na sexta. Vê se isso acontece em Pinheiros", reclama o estudante Thiago Corrêa da Silva, de 16 anos. Ele e o colega Renato Santos, de 17, vão agora aos sábados aos bailes do Nação Tan Tan, em Itaquera. O comerciante Alvaro Marcos Moreira, de 43 anos, acha preconceito a operação fecha-bar no bairro. "Qual é o problema em jogar um baralhinho até mais tarde? Só porque somos pobres de conjunto habitacional? Eu não voto mais no Kassab." Para quem era vizinho dos bares lacrados, porém, a "Patrulha do Silêncio" é descrita como a salvação. "Ninguém conseguia dormir, eles fechavam as portas e a música continuava alta, ficava todo mundo lá dentro", diz o professor de natação Mário José Neto, de 51 anos, morador da Rua Wilson Fernando de Carvalho. As reclamações registradas pelo Programa do Silêncio Urbano (Psiu) em Cidade Tiradentes também caíram. Entre março e maio, foram 23 reclamações, ante 45 no mesmo período de 2008. "Para receber as denúncias no anonimato, coloquei uma secretária eletrônica e distribuí cartazes com o número (2555-0460)", conta o subprefeito. A Secretaria de Coordenação das Subprefeituras estuda agora padronizar o procedimento nas outras 30 subprefeituras da capital paulista.

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