Cineasta lamenta fim de cineclube no Jardim Botânico do Rio

Nova presidente do parque garante que não pretende fechar o espaço de exibições definitivamente

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

RIO - Circula na internet um texto do cineasta Walter Lima Júnior em que ele lamenta o fim do Cineclube do Jardim Botânico, que criou em 2007. A decisão foi da presidente do parque, Samyra Crespo, que assumiu o cargo em maio de 2013. Ele a acusa de reverter as decisões tomadas pela gestão anterior; ela rebate dizendo que não é contra o cineclube, mas que há outras prioridades a serem encaixadas em seu orçamento.

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As sessões acabaram em dezembro. Estudantes e cinéfilos que frequentavam o cineclube nas noites de terça-feira fizeram um abaixo-assinado por sua volta. Com um trajetória no cinema de mais de 40 anos, Lima Junior, que dá aula na PUC, perto dali, sustenta que se o objetivo de Samyra é priorizar o caráter científico do Jardim Botânico, não há por que retroceder no campo cultural.

"Ela quer fazer disso uma marca da gestão, mas essa dicotomia entre ciência e cultura só existe na sua cabeça. É uma questão de vaidade, e diminuir, em vez de somar, não é incomum na administração pública", ele afirma. "Isso nos preocupa porque pode ser a ponta de um iceberg." Com entrada gratuita, o cineclube funcionava numa sala do Centro de Visitantes do Jardim Botânico. Exibiu cinematografias de nomes como Billy Wilder, Alfred Hitchcock e Stanley Kubrick e, a princípio, teve patrocínio para bancar o projetor, o sistema de som e o telão. Quando este foi cortado, passou a ser custeado pelo parque. O gasto, segundo Samyra, era de R$ 1.500 por mês, valor pago por cada palestra de Lima Junior que acompanhava as exibições.

A presidente garantiu que não pretende fechar o cineclube de vez - as atividades foram suspensas temporariamente para que o Centro de Visitantes seja equipado com totens e tablets que ofereçam aos visitantes mais informação sobre as espécies e monumentos do parque antes de conhecê-lo. O Museu do Meio Ambiente, que poderia servir ao Cineclube, também será reformado. Em seis meses, depois da obra, ela promete reabri-lo. Mas não com Lima Junior à frente. "Isso é uma instituição pública, tem que se lançar um edital", esclareceu. Outra questão é a programação: a presidente acha mais adequado que sejam passados filmes com temática ambiental ou afim.

"Não existe essa história de que eu sou contra a cultura. Mas cheguei aqui há seis meses e saí desesperada cortando todas as despesas que podia cortar. O projeto social, que oferece a 85 adolescentes de comunidades cursos de jardinagem, estava deficitário em R$ 60 mil". Samyra ressaltou que não pretende interferir em outas iniciativas culturais abrigadas pelo parque, como o Espaço Tom Jobim, inaugurado em 2003.

Fundado por d. João VI em 1808, o Jardim Botânico do Rio é uma referência nacional, como instituição de pesquisa e ponto turístico, e por reunir mais de dez mil plantas exóticas. Em 2013, bateu recorde de visitação: um milhão de pessoas apreciaram sua beleza. O orçamento anual é de R$ 13 milhões.

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