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Cinéfilos têm 1 mês para salvar o Belas Artes

Por Agencia Estado
Atualização:

Fãs do velho Cine Belas Artes, na esquina da Avenida Paulista com Rua da Consolação, ainda têm pelo menos um mês para matar as saudades do cinema, uma referência cultural da cidade. A anunciada última sessão do Belas Artes, de 35 anos de idade, marcada para esta quinta-feira, acabou não ocorrendo. Outras sessões virão, mas com dias contados. Para evitar isso, a todo custo, acaba de ser criado o Movimento Viva o Belas Artes, não por acaso, nas mesas do Bar Riviera, do outro lado da rua, igualmente famoso e ameaçado de extinção. Logo cedo, os (ainda) poucos integrantes do movimento, numa "atitude de paz e amor", penduraram faixas afirmando que o Belas Artes é um patrimônio público da cidade e, portanto, não pode fechar. "O Belas Artes representa uma transição entre o cinema de rua, como os da Avenida Ipiranga, da São João e da Rua Augusta - que fecharam, viraram templos evangélicos ou só exibem pornografia - e os de shopping", explica o arquiteto Roberto Loeb, há cinco dias presidente "eleito e empossado" do movimento. Segundo ele, cinemas de shoppings, embora tenham lá sua importância econômica, descaracterizam a urbanidade. "Eles tiram o contato com a rua, que é um bem público." O Cine Belas Artes, que Loeb classifica como "avô dos cinemarks", era, nos anos 60 e 70, "uma espécie de praia da esquerda": "A gente encontrava todo mundo. Nos anos duros da ditadura era um respiro, o lugar onde estudantes e intelectuais iam pegar um solzinho, o sol da liberdade", lembra Loeb. Segundo ele, nesses anos difíceis, as salas do Belas Artes serviam de área de descanso. "Eram nossa referência e oxigênio. Íamos ali encontrar os amigos e Visconti, Fellini, Antonioni, Glauber, Godard." Tão importante quanto ir ao cinema era atravessar a rua ou a passagem subterrânea e tomar um chope no Riviera, que existe há 52 anos. "O bar era freqüentado por Chico Buarque, Gil, Caetano", recorda Loeb. "Era um ponto de encontro obrigatório de intelectuais e universitários." Ele vai fazer um estudo, que deve apresentar à Secretaria Municipal de Cultura, para transformar o Belas Artes num centro de referência cinematográfica. "Ainda não sabemos o que pode virar, só não pode fechar", diz a jornalista Sonia Morgenstern Russo, vice-presidente do movimento. "Este é um ponto histórico, cultural e afetivo, uma parte da história cultural de São Paulo que não pode ser detonada." O estudante Maurício Tostes, de 20 anos, tem uma razão bem prática para querer que o cinema não feche: ele mora a uma quadra, na Avenida Angélica, e vai a pé. "Vai ser uma grande perda", acredita o consultor de empresas Juarez Prado, de 43 anos. "Vi filmes memoráveis aqui." Freqüentadora assídua, a atriz e professora de teatro Mariana Leite aprecia a localização do cinema e o preço do ingresso. "É mais barato." Em compensação, para ir à Sala Cândido Portinari, nesta quinta, assistir ao filme Casamento Grego, foi acompanhada de um lanterninha, como nos velhos tempos, porque não havia luz. "Os banheiros, as poltronas, a projeção, o som - tudo está em situação deplorável", diz o promotor Fernando Moraes, de 29 anos. "Desse jeito, pode fechar."

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