Cinema conferiu glamour a furtos em museus

Vários filmes mostram personagens roubando quadros e relíquias históricas ou sagradas

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Por Luiz Carlos Merten
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É uma cena complexa, mas o diretor John McTiernan jura que improvisou inteiramente aquela invasão de figurantes vestidos como personagens de Magritte no museu de A Arte do Crime. O filme é o remake de Crown, o Magnífico, que Norman Jewison havia realizado nos anos 60. Em ambos, o ladrão charmoso (Steve McQueen no filme de Jewison, Pierce Brosnan no de McTiernan) usa o engenho para roubar obras de arte. Faye Dunaway e Rene Russo fazem as agentes da lei que tentam enquadrar McQueen e Brosnan. O cinema contou muitas histórias sobre assaltos a museus. As duas versões do "Magnificent Crown" são atraentes, mas não são nem as melhores nem as mais importantes. Você não pode ter esquecido de outra dupla clássica, Peter O?Toole e Audrey Hepburn, tentando roubar do Louvre a peça que o pai dela falsificou em Como Roubar Um Milhão de Dólares, comédia dos anos 60 em que William Wyler deu prosseguimento ao tema do anterior O Colecionador. Cabe destacar que quase simultaneamente ao roubo de O?Toole e Audrey, o cinema francês também tentou quebrar a inviolabilidade do Louvre num divertido filme de Michel Deville, Como Roubar a Mona Lisa, com George Chakiris e Marina Vlady. E não se pode esquecer de Topkaki, de Jules Dassin, remake de Rififi, do próprio diretor, no qual o roubo é de uma jóia, no Museu de Istambul. Em todos esses filmes, roubar quadros ou relíquias históricas (ou sagradas) é um desafio que os personagens assumem mais pelo gosto do risco do que movidos pela cobiça. Em Incógnito, de John Badham, Jason Patric é acusado de roubar um Rembrandt legítimo, mas na verdade se trata de uma falsificação que ele próprio fez. Como no caso do filme de Wyler, trata-se aqui de apagar pistas incriminadoras. Talvez, nos anos 60, a chamada "década que mudou tudo", o objetivo dos artistas fosse contestar, por meio de todos esses roubos, a arte oficial, contra a qual se insurgiam tantos novos movimentos cinematográficos, literários e visuais. Politicamente correto era o que fazia Burt Lancaster em O Trem. Lá toda astúcia do herói e de seus parceiros consistia em salvar obras do saque nazista. Só que aí não era só ficção. Os nazistas foram grandes ladrões de obras surrupiadas a museus e a coleções particulares de colecionadores judeus.

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