PUBLICIDADE

Ciro frustra o Planalto e irrita Lula com elogio a tucano

Furioso, presidente orientou Dilma a não entrar no bate-boca para não jogar mais combustível na crise

Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa e Tania Monteiro
Atualização:

De todas as estocadas do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), a que mais surpreendeu e irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o elogio feito pelo antigo aliado a José Serra, candidato do PSDB ao Palácio do Planalto. Furioso, Lula orientou Dilma Rousseff, concorrente do PT, a não entrar no bate-boca para não jogar mais combustível na crise.Para Lula, o fato de Ciro ter dito que ele está "navegando na maionese" não passa de "bobagem", mas a declaração referente a Serra - definido pelo deputado como "mais preparado, mais legítimo e mais capaz" do que Dilma - foi recebida como traição.Em público, Lula não comentou a entrevista de Ciro ao portal iG. "Estou mudo", disse ele, ao chegar ontem para a posse do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso. Longe dos holofotes, porém, não escondeu a contrariedade. No seu diagnóstico, Ciro quebrou o acordo de tudo fazer para ajudar Dilma.O presidente qualificou a situação como "dolorosa". A auxiliares, afirmou que não havia chamado Ciro para uma conversa a sós, até hoje, porque aguardava um sinal do PSB. Na prática, não sabia o que fazer. A certa altura, chegou mesmo a achar que ele aceitaria ser candidato ao governo de São Paulo, com o apoio do PT. Era o script combinado.Depois, quando Ciro começou a bater cada vez mais duro, Lula recebeu da cúpula do PSB a garantia de que a desistência do cearense da disputa presidencial seria "administrada". O ex-ministro, porém, fugiu do controle. Lula gosta de Ciro. Queria oferecer a ele a coordenação da campanha de Dilma ou afagá-lo de outra forma, mas não poderia jamais lhe dar a vice na chapa petista, já prometida ao PMDB. Para o governo, era isso o que o ex-ministro realmente queria."Ciro fez declarações injustas porque nós o acolhemos e brigamos com vários petistas por causa dele, quando havia a hipótese de sua candidatura ao governo paulista", afirmou o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). "Mas ele é nosso aliado. Não temos de cutucá-lo." O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, também evitou a polêmica com Ciro. Cauteloso, Padilha disse que a comparação entre Dilma e Serra será feita pelos eleitores. "A campanha caminha para a polarização entre dois projetos e esperamos que o PSB esteja junto conosco", insistiu. Na direção do PT, os recados de Ciro a Lula, a Dilma e ao PMDB provocaram extremo mal-estar, mas a ordem do Planalto, que também chegou lá, foi para não esticar a corda. "As declarações que Ciro fez sobre o presidente e Dilma foram equivocadas, mas precisamos compreender que a situação dele é delicada", amenizou o deputado Geraldo Magela (DF), secretário de Assuntos Institucionais do PT.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.