Classe A recebe 15% dos atendimentos

Elite paulista troca cocaína pela droga de efeito mais imediato; média de quem procura ajuda também cai

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Por Fernanda Aranda
Atualização:

Por causar um "barato instantâneo", o crack desbancou a cocaína injetável e chegou à elite paulista. Levantamento entre os pacientes do SUS do Estado confirma antiga percepção das clínicas particulares: pacientes com renda mensal superior a 20 salários mínimos (R$ 9.300) somam 15% das pessoas em tratamento público por dependência da "pedra". Em 2006, o grupo respondia por 12% do total. Os dados são da Secretaria de Estado da Saúde e revelam que a escalada do crack na classe média foi ainda mais expressiva do que em outros segmentos sociais. Enquanto no público mais endinheirado o aumento de pacientes em tratamento por crack e outras drogas foi de 2,55 vezes (saindo de 152, em 2006, para 388, no ano passado), no restante da população, o crescimento foi de 1,7 vez (de 1.538 para 2.638). "Seja misturado ao cigarro, à maconha ou a qualquer outra substância, a novidade nos 20 anos de história do crack em São Paulo é a chegada (da droga) às classes mais favorecidas", afirma Luizemir Lago, responsável pela política antidrogas estadual. "Outro motivo para a estatística é que quanto mais estruturada a família, mais rápido é a procura pelo tratamento. Ninguém traz as crianças de rua ao sistema. É mais difícil." Os dependentes de crack em tratamento também estão um pouco mais novos. A idade média é de 29 anos. "A cocaína injetável foi substituída pelo crack", afirma Pablo Roig, diretor da Clínica Greenwood. Na entidade - que cobra mensalidades de cerca de R$ 12 mil - o crack "ocupa" 30% das 40 das vagas disponíveis, estatística nula há quatro anos. "Essa droga atende ao imediatismo do usuário. O dependente perde a habilidade de lidar com frustrações, e uma das grandes frustrações é a espera", diz. Segundo Roig, não há nada que estimule tanto a "região da recompensa" do cérebro quanto cocaína e crack. Os usuários pagam os R$ 10 pela pedra, pouco para a classe média, mas que inclui depressão, paranoia e mal-estar. Operações policiais endossam que não são só moradores de rua que dão cara à dependência do crack. Policiais do 4º DP (Consolação), no centro, identificaram um ponto de tráfico de drogas que afirmam abastecer os frequentadores dos bares e casas noturnas das Ruas Augusta, da Consolação e Frei Caneca. Nas duas operações deflagradas após estudos do delegado titular, João Gilberto Pacífico, os quatro traficantes presos na altura do número 200 da Rua Paim vendiam crack. O local fica em uma viela entre duas "favelas verticais", o que dificulta a ação policial.

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