PUBLICIDADE

Cliente de Palocci, que doou para Dilma, recebeu restituição de R$ 9,2 milhões

Construtora WTorre, que admitiu ter contratado consultoria do ministro da Casa Civil, doou R$ 1 milhão para a campanha do PT no mesmo dia em que protocolou pedido de crédito de Imposto de Renda; liberação ocorreu após o primeiro turno

Por Denise Madueño e BRASÍLIA
Atualização:

Com dados obtidos no sistema que registra os pagamentos feitos pelo governo federal, o PSDB detectou uma coincidência entre a liberação de recursos da Receita Federal para a empresa WTorre, para a qual o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, prestou consultoria, e a doação de campanha para a então candidata Dilma Rousseff. A relação desgasta ainda mais Palocci. O partido levanta essa suspeita com base nas datas de pagamento. A oposição recorreu ao Ministério Público na semana passada pedindo investigação de suposto tráfico de influência do ministro com base no crescimento de seu patrimônio pessoal e rendimentos concentrados no final do ano eleitoral. O patrimônio de Palocci aumentou mais de 20 vezes em apenas quatro anos e no final de 2010 o ministro adquiriu uma apartamento luxuoso na área nobre de São Paulo avaliado em R$ 6,6 milhões. Ele argumentou que conseguiu a renda com os trabalhos da empresa de consultoria, a Projeto, que tinha WTorre entre seus clientes. A WTorre protocolou, em 2009, um pedido de restituição de crédito de R$ 6.259.531,67 referente ao Imposto de Renda de Pessoa Jurídica de 2007. O processo ficou parado até véspera das eleições do ano passado, quando a empresa protocolou novo pedido de crédito no valor de R$ 2.920.770, referente ao IRPJ de 2008. No mesmo dia em que a WTorre entrou com o segundo pedido, dia 24 de agosto de 2010, a empresa fez, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), uma doação de R$ 1 milhão ao comitê financeiro nacional do PT para Presidente da República. O mesmo valor de doação foi repetido 17 dias depois, em 10 de setembro. Em contrapartida, de acordo com o PSDB, a empresa teve o dinheiro liberado em tempo mais rápido do que o usual. Em 43 dias, o recurso previsto nos dois processos, somando mais de R$ 9 milhões, foi liberado de forma seguida por uma mesma funcionária, com a diferença de quatro minutos apenas. O sistema de pagamento do governo registra duas ordens bancárias emitidas para a empresa no dia 6 de outubro de 2010, três dias após o primeiro turno eleitoral. Milagre. O PSDB questiona se foi a consultoria "milagrosa" do ministro e coordenador de campanha da presidente Dilma que fez com que a empresa recebesse o dinheiro em poder da Receita. "Que empresa consegue ter o processo na Receita analisado e liberado em 43 dias? O outro processo estava parado havia quase um ano e, no dia do protocolo, a empresa fez doação de R$ 1 milhão", ressaltou o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR), que divulgou as cópias dos registros do Siafi, dos protocolos, e de doação de campanha, sobre a coincidência de datas. "A população quer respostas e o homem público não tem vida protegida por sigilo", disse o tucano. "A presidente Dilma deve dar uma ordem a Palocci, antes que a sujeira que ronda a Casa Civil chegue ao gabinete dela", completou. O líder do partido, deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP), afirmou que essa é uma demonstração clara da necessidade de uma Comissão Parlamentar de Inquérito Mista para investigar o aumento de patrimônio do ministro Palocci nos últimos quatro anos, e a atuação de sua empresa, a Projeto. "As provas são muito fortes e o assunto precisa ser investigado", disse o líder tucano. "Existem indícios muito consistentes de triangulação de interesses empresariais, devolução de recursos da Receita Federal, incluindo a WTorre e empresa de consultoria do ministro Palocci, com vinculação de suposto envolvimento de doação", disse Duarte Nogueira. Paralelamente à busca de assinaturas para a criação de uma CPI mista, composta por deputados e senadores, o líder tucano protocolou uma proposta para que a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara realize uma apuração nos pagamentos realizados à empresa WTorre pela delegacia da Receita Federal de Administração Tributária de São Paulo, vinculada ao Ministério da Fazenda. A ofensiva do PSDB contra o ministro ocorre um dia após o Palácio do Planalto, com a ajuda do ex-presidente Lula, ter responsabilizado a Prefeitura de São Paulo, e mais especificamente tucanos lotados na Secretaria de Finanças, pelo vazamento de dados de ISS da empresa Projeto. A acusação de vazamento do sigilo fiscal de Palocci seria uma forma de minimizar o impacto político da crise. Ridículo. O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), procurou desqualificar as suspeitas levantadas pelo PSDB. "Isso é ridículo. Não vou comentar um assunto que não tem pé nem cabeça", reagiu. "Não existe nenhum problema a WTorre ter como consultor o ministro e ter contribuído para a campanha do PT. É procurar chifre em cabeça de cavalo." ReaçãoDUARTE NOGUEIRALÍDER DO PSDB NA CÂMARA"Existem indícios consistentes de triangulação de interesses empresariais, devolução de recursos da Receita Federal, incluindo a WTorre e empresa de consultoria do ministro Palocci"TRANSAÇÕES SOB SUSPEITA8 de outubro de 2009A construtura WTorre protocola pedido das restituições do Imposto de Renda Pessoa Jurídica referentes a 2007 e 200824 de agosto de 2010Quase um ano após o primeiro pedido, WTorre protocola segundo pedido de restituição das declarações24 de agosto de 2010No mesmo dia, WTorre faz doação de R$ 1 milhão para a campanha da então candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff10 de setembro de 2010Construtora faz uma nova doação, também no valor de R$ 1 milhão, para a campanha presidencial da candidata petista6 de outubro de 2010Receita libera as duas restituições, no mesmo dia. As ordens bancárias são de R$ 6.259.531,67 e R$ 2.920.770,00

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.