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''Com certeza terei outros filhos a quem poderei amar''

Ana Carolina Cunha de Oliveira: mãe de Isabella Nardoni; Ana Carolina falou, por e-mail, sobre a retomada, aos poucos, da rotina, ?alterada inevitavelmente pelos fatos?

Por Fernanda Aranda e JORNAL DA TARDE
Atualização:

O silêncio predomina no apartamento do 6º andar da Vila Isolina Mazzei, na zona norte de São Paulo, sempre fechado. Raras vezes alguém aparece por lá - só para buscar correspondências. Vez ou outra, alguém que passa pela rua do Edifício London olha para cima e lamenta a tragédia. Olhos constrangidos também evitam encarar Ana Carolina Cunha de Oliveira, de 24 anos, quando a reconhecem na rua. Mas quase sempre o que ela recebe por quem lembra do seu rosto é um sorriso. No jardim do London, onde a filha dela, Isabella, de 5 anos, foi encontrada morta, plantaram um pé de dama-da-noite, que já deu flor. Como o cenário, aos poucos a vida de Ana Carolina mudou. Ainda que as lágrimas sejam diárias, já há espaço para planos de outros filhos, trabalho e almoços eventuais em restaurantes. Tarefas que pareciam impossíveis de serem retomadas antes, pois apertava o peito toda vez que vinha a certeza de que "sua princesa", como chama a filha, não iria mais recebê-la com um longo abraço quando voltasse para casa. "Não sei definir hoje como estou. A única coisa que poderia realmente dizer é que sou mais triste", diz. Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta da criança, foram denunciados, presos e respondem por homicídio. Trocaram o prédio onde Isabella passava quase todos os fins de semana por celas em penitenciárias de Tremembé, no interior. Ana Carolina Oliveira não fala do casal. Mantém a postura de cautela adotada desde o início. Quando foram presos, ela chegou a dizer que "a justiça havia sido feita". Agora, prefere o silêncio. Nenhuma palavra sobre eles foi dita. Ela falou à reportagem, por e-mail. Quase um ano depois da morte de Isabella, as pessoas ainda te reconhecem na rua? Elas procuram falar com você? Algumas reconhecem, sim, mas hoje um pouco menos. Continuo recebendo mensagens e cartas e todas estão guardadas. Algumas pessoas se aproximam, mas ficam receosas. Outras apenas apontam e soltam um simples e carinhoso sorriso. O que você voltou a fazer que tinha parado? A minha rotina foi alterada inevitavelmente pelos fatos, e aos poucos vão tomando um rumo. O que você passou a fazer que não fazia? Terapia, orações? Deus sempre fez parte da minha vida, não foi o acontecido que fez com que eu mudasse, a minha fé é única. Mas hoje o que faço e não fazia é chorar diariamente, a falta que ela me faz é muito grande. Você sonha? Tem vontade de ter outros filhos? Tenho, sim. Com certeza terei outros filhos a quem poderei amar e me dedicar, assim como fiz com a minha princesa. Com o passar do tempo, desde o dia do crime, alguma passagem te surpreendeu positivamente? O que mais marcou? Todas as mensagens foram muito significativas e importantes. Quando os jornalistas deixaram de fazer "plantão" na porta da sua casa, qual foi a sensação? Outras pessoas que passaram por situações dolorosas dizem que é nessa hora que a ?ficha costuma cair?. O meu choque foi tão grande que nem percebi a chegada e a saída da imprensa. Cada dia havia uma novidade, demorou para perceber tudo o que aconteceu, foi muito difícil. Passados esses meses, como analisa o papel da imprensa? A comoção nacional trouxe mais benefícios ou prejuízos? A imprensa cumpriu o seu papel de uma forma muito séria, com isenção e integridade. Para as famílias que tiveram a história também marcada pela violência, o que você aconselha para tentar a superação? Difícil dizer, mas a única palavra que eu diria para todas as mães que sofrem assim como eu é que tenham fé. FRASES Ana Carolina Cunha de Oliveira Mãe de Isabella Nardoni, morta em 29 de março de 2008 "Não sei definir hoje como estou. A única coisa que poderia realmente dizer é que sou mais triste"

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