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Com ex-diretores indiciados, Anac lança guia de segurança

Cinco ex-diretores da agência reguladora foram indiciados pelo acidente da TAM que matou 199 pessoas

Por Carolina Freitas e da Agência Estado
Atualização:

No mesmo dia em que cinco ex-dirigentes da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) foram indiciados por atentado contra a segurança do transporte aéreo pelo acidente com o avião da TAM, a agência reguladora lança uma cartilha com dicas para um vôo seguro. A Anac quer agora ajudar pilotos e empresas a trabalharem no gerenciamento de riscos e a aprender com os erros que provocaram acidentes como o do Airbus da TAM, em Congonhas, em julho do ano passado, no qual morreram 199 pessoas. Veja também: A íntegra da cartilha com dicas para um vôo seguro O que mudou e o que não mudou  Os registros das câmeras de segurança  Os nomes e as histórias das vítimas  Familiares entregam projeto de memorial  Tudo o que já foi publicado sobre a tragédia    "Um acidente é muito útil para nos ensinar como proceder no futuro", afirmou o gerente de investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos da Anac, Ricardo Senra, à Agência Estado. A entrevista aconteceu horas antes de a polícia anunciar o indiciamento do ex-diretor-presidente da Anac, Milton Zuanazzi, da ex-diretora Denise Abreu, e dos então superintendentes de área da agência Luiz Kazumi, Marcos Santos e Jorge Velozo. Senra dissociou o lançamento do guia de segurança de vôo da polêmica em torno da responsabilidade da Anac no acidente da TAM. Na semana passada, o promotor do caso, Mário Luiz Sarrubo, já adiantara que integrantes da cúpula da entidade seriam indiciados. "Isso não influencia em nada. Nossas campanhas são estratégicas, de longo prazo", disse Senra. Mas admitiu: "Adotar as práticas corretas diminui a possibilidade de ter um acidente trágico como o do ano passado." A cartilha voltada para a aviação geral, ou seja, de aeronaves de pequeno porte, divulgada nesta quarta-feira, 19, pela Anac, faz parte de uma investida em prol da segurança. Para o mês que vem, o órgão prepara um seminário nacional sobre os "desafios da segurança de vôo", no Rio. Outros sete eventos sobre o assunto estão previstos para 2009, um em cada gerência regional da agência no Brasil. A aviação comercial deve ganhar um guia de segurança semelhante ao lançado nesta quinta ainda no primeiro semestre do ano que vem, adiantou Senra. O material já está em produção. "Vamos focar nos processos da empresa, para que seja repassado aos tripulantes." O gerente explica que a Anac quer estimular a transição de um modelo de aviação "prescritivo" para outro de "gerenciamento de riscos". "No prescritivo você só segue o regulamento, mas isso não basta", afirmou Senra. E fez uma referência indireta ao acidente da TAM ao dar um exemplo de gerenciamento de risco: "Se a pista está mais curta do que seria normalmente, você vai colocar menos peso na aeronave ou um piloto mais experiente para operar naquele aeroporto." Na noite de 17 de julho de 2007, o Airbus A320 varou a pista de Congonhas. Segurança O guia de bolso lançado pela Anac, com 20 páginas, passou a ser distribuído no início de novembro em aeroclubes, escolas de aviação, associações de pilotos e empresas. A divulgação à imprensa aconteceu nesta quinta. A elaboração do material começou em março, com a participação da Gerência Geral de Investigação e Prevenção de Acidentes da Anac, do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos da Força Aérea Brasileira e da Associação Brasileira da Aviação Geral. A agência optou por começar a campanha com uma cartilha para pilotos da aviação geral, ou seja, de aeronaves particulares, táxis-aéreos e aviões agrícolas, porque nessa área há estruturas menores de controle da segurança. "É mais fácil para o piloto de uma grande empresa ter essas orientações, pois há departamentos voltados para a segurança", explica Senra. "Notamos que as empresas menores e os pilotos individuais tinham dificuldade em acessar essas informações, por isso focamos neles." A cartilha traz dicas triviais, como manter em dia a documentação profissional e da aeronave. A Anac recomenda até mesmo afastar pensamentos de pressa como 'temos obrigatoriamente de chegar lá'. De acordo com a cartilha, isso pode prejudicar o julgamento de riscos do piloto. Há indicações ainda para que o piloto leia o manual da aeronave, planeje o vôo e a rota, calcule a quantidade de combustível e cheque as condições climáticas. Segundo Senra, esses são conhecimentos adquiridos pelos pilotos nos cursos de formação, mas é bom que sejam rememorados. "São lembretes. Para que, quando ele for partir para uma missão, tenha uma visão geral de tudo o que tem de fazer."

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