Com mais de 3 mil presos, Complexo Frei Caneca será desativado

Complexo abriga as prisões mais antigas do Estado do Rio de Janeiro, construídas no Império e deverá ser desativado até dezembro, quando os 3.691 presos serão transferidos para sete instituições ainda em construção

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Por Agencia Estado
Atualização:

O Complexo da Frei Caneca, que abriga as prisões mais antigas do Estado do Rio de Janeiro, construídas no Império, finalmente será desativado. A previsão é de que isso aconteça até dezembro, quando os 3.691 presos serão transferidos para sete instituições ainda em construção. A desativação da Frei Caneca, complexo que reúne quatro presídios, uma casa de custódia e um hospital psiquiátrico, já havia sido anunciada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro em 2003. Mas, desde então, somente uma instituição foi demolida, o presídio feminino Nelson Hungria. O complexo penitenciário em pleno centro da cidade é causa de constante tensão na vizinhança. A última rebelião ocorreu em 2004. Os presos permaneceram amotinados por 14 horas. Numa ação ousada, a polícia ocupou o complexo e, com o apoio de dois helicópteros, resgatou reféns que estavam no telhado e encerrou a rebelião em dez minutos. Um preso morreu e dois agentes ficaram feridos. A idéia inicial do governo era erguer um conjunto residencial com prédios de quatro a nove andares e áreas de lazer nos 64 mil metros quadrados hoje ocupados pelos presídios. Os 700 apartamentos deveriam ser vendidos principalmente para policiais militares e bombeiros. O projeto foi abortado por causa da vizinhança. A Frei Caneca é cercada pelos morros do São Carlos, Zinco e Mineira, favelas dominadas por facções rivais. Há casos constantes de tiros disparados por traficantes para a área interna do complexo. A governadora Rosinha Matheus ainda não decidiu o destino que a área terá. Entre as opções estão a construção de uma área de lazer ou até mesmo um batalhão da Polícia Militar. Os presos serão encaminhados para dois presídios em Japeri, na Baixada Fluminense, um em Campos, no norte do Estado, para a Penitenciária Bangu 6, e duas casas de custódia. Nenhuma das instituições foi concluída. A previsão é que os prédios comecem a ser inaugurados no fim de agosto. Para o historiador Marcelo Freixo, integrante da organização não-governamental Conselho da Comunidade, que fiscaliza o sistema penitenciário, o anúncio da desativação do complexo antes da conclusão dos novos presídios é preocupante. "Corre o risco de o governo reproduzir o erro das delegacias legais, em que as carceragens nas delegacias foram desativadas antes da construção das casas de custódia. O que se viu foi superlotação nos presídios", disse. Ele lembrou que há fila de presos que esperam a transferência para a Frei Caneca. "Ali há espaço para escola, para trabalho em oficinas, as celas são individuais ou duplas. É preciso saber se os novos presídios terão as mesmas características." As obras para a construção do Complexo da Frei Caneca começaram em 1833. O local já foi ocupado por escravos, chefes da Falange Vermelha, facção precursora do Comando Vermelho, e também presos políticos durante a ditadura militar. Dali, José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, fugiu pela porta da frente em 1983. Quatro anos depois, Escadinha e outros dois traficantes tentaram fugir novamente. Dessa vez, um helicóptero deveria resgatá-lo do pátio da instituição. Agentes atiraram contra o aparelho, que explodiu. "Foi a primeira casa de correção do Brasil, erguida de acordo com os ditames modernos da época, com a preocupação de recuperar o preso. O prédio já perdeu parte do valor histórico porque foi descaracterizado ao longo dos anos. Mas soube que um trecho original da muralha, que tem um portão em forma de arco, será preservado", disse o historiador Milton Teixeira.

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