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Com ousadia, Viradouro ''''arrepia'''' Sapucaí

Escola de Paulo Barros levou até pista de esqui para a avenida e surge como forte candidata ao título

Por Clarissa Thomé , Monica Ciarelli (Broadcast) e Roberta Pennafort
Atualização:

A Unidos do Viradouro foi o grande destaque da primeira noite de desfiles do Grupo Especial do carnaval do Rio e já surge como forte candidata ao título. Com muita criatividade e ousadia, o carnavalesco Paulo Barros levou para a avenida alegorias impactantes e alas muito bem estruturadas para justificar o enredo É de Arrepiar. O carro Holocausto, impedido de desfilar por causa de uma decisão judicial, deu lugar a outro menos polêmico, com a figura de Tiradentes tendo em torno cerca de 70 pessoas vestidas de branco e com a bocas tapadas por faixas, pedindo liberdade de expressão. Duas frases estampavam o carro: "Liberdade ainda que tardia" e "Não se constrói o futuro enterrando a história". O mais espantoso, porém, foi a pista de esqui montada no abre-alas - uma das alegorias mais aplaudidas, com gelo e esquiadores de verdade. A agremiação, que fechou o domingo de desfiles, entrou com fôlego para repetir o feito de 1997, quando conquistou seu único campeonato no Grupo Especial. Ainda na concentração, Paulo Barros já estava certo do resultado que alcançaria. "Eu não tinha plano B, depois da liminar, porque tinha um carro muito forte. Mas, duas horas depois de receber a notificação, o carro já estava redefinido", disse ele, que superou as expectativas já no abre-alas. Vinte esquiadores profissionais "evoluíram" sobre quilos de gelo especial, trazido especialmente de São Paulo. O efeito, além de visual, foi também sensorial - de fato, fez frio na Sapucaí. Baratas (que avançavam sobre restos de comida sobre um carro), aranhas (que rastejavam no chão do Sambódromo), cobras, lagartos e outros animais repugnantes representavam o arrepio causado pelo nojo e pelo medo. Com o mesmo intuito, foram lembrados filmes de terror, caso de A Hora do Pesadelo e O Exorcista. Uma ala tinha integrantes "vestidos" de cadeira elétrica; outra, de pingüins. Juliana Paes, a rainha de bateria, estava em êxtase, mesmo com a chuva. O carro do Kama Sutra, com casais simulando relações sexuais, sob um lençol gigante ou diante da platéia, em posições diversas, foi outro que surpreendeu. Assim como o último, que homenageou Cartola. Em sua pose clássica, violão em punho, o mestre - preterido por sua Mangueira, que preferiu celebrar o centenário do frevo pernambucano - surgiu em meio a rosas que desabrocharam na avenida. CHUVA FORTE Mais popular das escolas cariocas, a Mangueira, penúltima a se apresentar, mais uma vez teve apoio do público. Ao contar os 100 anos do frevo, a Verde-e-Rosa mostrou luxo nas fantasias, mas dificilmente vai lutar pelo título. Era clara a divisão entre seus componentes, por causa de escândalos recentes ligando diretores da escola, afastados, com traficantes de drogas do morro onde fica sua quadra. Isso se refletiu nas reverências que muitos dos foliões da escola faziam a Ivo Meirelles, que assistia ao espetáculo de camarote e era saudado por centenas deles, principalmente pelos ritmistas. A chuva forte também prejudicou a Mangueira."A pista estava alagada, logo em frente ao camarote dos julgadores, e os movimentos da comissão exigiam muita firmeza", disse o dançarino Carlinhos de Jesus, responsável pela comissão de frente da escola. Portela e Salgueiro, outras escolas de tradição que se apresentaram, não conseguiram empolgar a platéia. O Salgueiro veio com um enredo simpático sobre o Rio de Janeiro, mas o samba não funcionou na avenida. Já a Portela apostou na exuberância de seu símbolo, a águia, para conquistar a Sapucaí. São Clemente e Porto da Pedra foram as primeiras a desfilar . São sérias candidatas ao rebaixamento - apenas uma cai - em 2009. O risco maior é para a São Clemente, que homenageou os 200 anos da chegada da família real ao Brasil com bom humor, mas sem a grandiosidade das outras concorrentes.

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