Comandante da PM recebeu dinheiro de mandante de crimes

De acordo com Polícia Federal, coronel ganhou doações para campanha eleitoral para deputado estadual em Goiás

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Por Fabio Serapião
Atualização:
Contestado. Ministério Público tentou tirar Rocha do cargo Foto: ARQUIVO PESSOAL

BRASÍLIA - Levado coercitivamente para depor na segunda fase da operação Sexto Mandamento, o tenente-coronel Ricardo Rocha, da Polícia Militar de Goiás, teria recebido ajuda financeira de um mandante do assassinato de dois jovens no município de Alvorada do Norte (GO) por meio de doações eleitorais. Rocha foi candidato a deputado estadual na eleição de 2010 e preso na primeira fase da operação, realizada em 2011. O oficial é suspeito de ser um dos líderes de um grupo de extermínio responsável por mais de 40 mortes no Estado. Ele foi indiciado pela PF por homicídio e ocultação de cadáver.

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Rocha assumiu o Comando de Policiamento da Capital (CPC), em Goiânia, em fevereiro deste ano. Um mês depois, o Ministério Público do Estado de Goiás e o Ministério Público Federal em Goiás tentaram destitui-lo do cargo, mas o vice-governador e secretário de Segurança Pública e Administração Penitenciária, José Eliton (PSDB), negou a saída do PM e afirmou ter “integral confiança” no tenente-coronel para exercer a função.

“O certo é que havia um interesse da polícia em atender o anseio dos fazendeiros da região, o que se justificou durante as investigações, notadamente quando o Major Ricardo Rocha Batista foi candidato a deputado estadual, situação em que recebeu apoio financeiro dos fazendeiros para a sua campanha, em especial de Ari Ornelas”, expõe o ofício 0536/2011 anexado ao inquérito 290/2010 e dirigido ao juiz da vara criminal de Alvorada do Norte, onde os dois jovens desapareceram.

Buscas. Na decisão da Justiça Federal de Formosa (GO), o juiz Eduardo Luiz Rocha Cubas autorizou busca e apreensão e condução coercitiva contra o fazendeiro Ari Múcio Ornelas. O MPF havia solicitado sua prisão temporária, mas foi indeferida.

Segundo o delegado Milton Rodrigues Neves, da Unidade de Repressão a Crimes Contra a Pessoa, responsável pela investigação, Ricardo Rocha, à época, tinha relação muito próxima com policiais que foram presos e estava no local dos fatos no dia do desaparecimentos dos jovens. “Existe uma série de provas que indica a participação dele na morte dos dois jovens”, afirmou o delegado.

O secretário de Segurança de Goiás José Eliton voltou a defender o tenente-coronel em coletiva ontem. Ele criticou a atuação da Polícia Federal e afirmou que investigado não significa culpado nem condenado. Sobre o tenente-coronel, ele afirmou que exerce de maneira altiva as suas atribuições em todos os comandos que passou. “Não há qualquer grupo de extermínio em Goiás”, disse.

Realizada pela PF do Distrito Federal, a segunda fase da Sexto Mandamento cumpriu 3 mandados de prisão temporária, 19 mandados de busca e apreensão e 17 conduções coercitivas contra investigados por suspeita de integrarem o grupo de extermínio O nome é uma alusão ao mandamento bíblico “Não Matarás.”

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PARA ENTENDER A ordem dos Mandamentos A Bíblia trata da entrega dos Dez Mandamentos a Moisés no Êxodo e no Deuteronômio. Entre os católicos, o Catecismo registra o “não matarás” como 5.º mandamento, mas ele é o 6.º na leitura literal da Bíblia. Isso porque o Catecismo une duas formulações bíblicas (“Não terás outros deuses” e “não farás para ti imagens”) no 1.º mandamento (“Adorar a Deus e amá-Lo sobre todos as coisas”). Ele ainda desdobra a formulação (“Não cobiçarás a casa” e “não cobiçarás a mulher do próximo”) no 9.º (“Guardar a castidade”) e no 10.º (“Não cobiçar as coisas alheias”). 

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