Comando estuda reconstituir a prisão e morte dos três jovens

Advogado do tenente Vinicius Ghidetti, um dos acusados, diz que ação seria 'inviável'

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O Comando Militar do Leste (CML) estuda a possibilidade de reconstituir o episódio que terminou com a morte de três jovens do Morro da Providência, no dia 14. O procedimento é praxe em Inquéritos Policiais Militares (IPMs), mas, devido à repercussão do caso, o Exército quer avaliar prós e contras. A preocupação é com a integridade física dos 11 militares indiciados pelas mortes e do efetivo que daria segurança aos responsáveis pela investigação. Os moradores da Providência são um obstáculo, pois, desde a morte dos jovens por traficantes de morro rival, se opõem à permanência das tropas. Para a simulação, haveria necessidade de evacuar a Praça Américo Brum, um dos locais mais movimentados da favela. Ali, Wellington Gonzaga Costa, de 19 anos, Marcos Paulo da Silva Correia, de 17, e David Wilson Florêncio da Silva, de 24, acabaram detidos - mais tarde, foram entregues a traficantes do Morro da Mineira. O advogado João Carlos Figueiredo Rocha, que defende o segundo-tenente Vinicius Ghidetti, líder do grupo que entregou os rapazes, acha "inviável" a reconstituição. "Nas condições em que as coisas estão, já avisei que ele não vai. Seríamos recebidos com granadas." Outra dificuldade seria encenar a entrega dos jovens. A Mineira é dominada pela facção Amigos dos Amigos (ADA), e a Providência está sob as ordens do Comando Vermelho (CV). Na avaliação de fontes ligadas à investigação, seria preciso a intervenção do Batalhão da Operações Policiais Especiais (Bope) para entrar na favela. Ainda que isso fosse viabilizado, poderia haver depois retaliações do tráfico local. Para o capitão Fábio Peçanha, encarregado do IPM, é cedo para se falar em reconstituição. PERMANÊNCIA Pelo segundo dia consecutivo desde a decisão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região de limitar a atuação do Exército na Providência, militares continuaram ontem espalhados pela favela. Além do trecho da Rua Barão da Gamboa onde ocorrem as obras do Projeto Cimento Social, o Estado avistou homens nas imediações do conjunto habitacional da Vila Portuária e na capela do Cruzeiro, no topo do morro. No entendimento do defensor público da União André Ordacgy, autor da ação civil pública que pedia a retirada imediata das tropas, o despacho do TRF2 permite ao Exército ficar no morro até quinta-feira, quando o governo federal terá de apresentar solução definitiva. Em nota, o CML diz ter determinado "a redução dos efetivos na região de 200 para 60 militares", e que a permanência das tropas na favela fica "restrita à região do canteiro de obras e às áreas absolutamente necessárias à execução das atividades".

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