?O sistema está em guerra. De um lado são os presos jogando granadas na sede da secretaria e do outro nós, funcionários, sem segurança nenhuma.? Assim um agente penitenciário aposentado há um mês, que trabalhou dez anos em pelo menos oito penitenciárias, resume a situação atual dos presídios paulistas. Em entrevista a Moacir Assunção, Solano, como ele se identifica, afirma que a situação piorou de dois anos para cá, com o avanço de facções como PCC e Seita Satânica. Veja os principais trechos da entrevista. Estado ? As facções dominam os presídios? Solano ? Sem dúvida. Se fala muito do PCC, mas as outras, como o Comando Revolucionário Democrático Brasileiro (CRDB) e a Seita Satânica, embora sejam minoria, têm muito poder e vencem os detentos pela intimidação violenta. Não existe mais neutralidade no sistema. Se um preso entra numa prisão controlada por uma facção, é forçado a entrar no grupo. Já presenciei agressões violentas, com humilhações, como facadas nas nádegas, de até cem detentos contra grupos pequenos. Estado ? Como os grupos exercem poder nas prisões? Solano ? Por meio do controle das federações de esportes, entidades que organizam torneios esportivos e festas, por indicação de faxinas ? presos responsáveis pela higiene que têm trânsito livre em toda a prisão, função que os torna muito bem informados ? e pelo controle de celas, com o aluguel das pedras (beliches de alvenaria), além da passagem livre de drogas, celulares e armas. Estado ? Há funcionários corruptos? Solano ? Ponho a mão no fogo por 99% dos que conheço, mas há um grupo que topa suborno. Os funcionários antigos da Casa de Detenção são chamados de ?piolhos? pelos de outras cadeias e malvistos por conta da convivência com o sistema viciado. Temo que, com a desativação da Detenção, esse pessoal seja espalhado por aí, mandando para o interior uma turma nova, mais honesta. Estado ? Há alguma prisão em que os ânimos estejam mais acirrados? Solano ? A Penitenciária Mário de Moura Albuquerque, de Franco da Rocha, a P-1, é muito preocupante. Vai explodir em breve e será um massacre, tal o número de funcionários diante dos mais de mil presos. O motivo é a tolerância da direção com a Seita: um ônibus que transporta funcionários foi metralhado há dois meses. Por sorte, não havia passageiros (a Viação Cidade de Caieras, dona do veículo, confirmou ao Estado que houve o atentado). Estado ? Como funciona a Seita Satânica? Solano ? As celas são pintadas de preto, com velas e cortinas da mesma cor e os presos sofrem mutilações, em rituais movidos à maria louca (bebida feita de casca de laranja e arroz). Alguns queimam as palmas das mãos com charutos até ver os ossos, como uma obrigação, e outros fazem signos cabalísticos no peito com lâminas. Estado ? Como melhorar essa situação? Solano ? Concordo com o governador Geraldo Alckmin: poderiam ser construídas penitenciárias federais, em locais isolados. Tenho muito respeito pela política de direitos humanos, mas ela deve ter limites no caso de presos perigosos.