Como foi a prisão do mais perigoso seqüestrador de SP

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Por Agencia Estado
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A prisão de Pedro Ciechanovicz, de 49 anos, pôs fim ao mais longo seqüestro da história de São Paulo e colocou atrás das grades o homem apontado como o líder do bando que seqüestrou, entre outros, os empresários José Cutrale Neto, Girz Aronson e Roberto Benito Junior, das Lojas Cem, alguns dos mais importantes casos ocorridos nos últimos anos no Estado. Detido nesta segunda-feira de madrugada em Curitiba, Ciechanovicz ordenou, sem que o resgate fosse pago, a libertação de sua última vítima, o empresário João Bertin, de 82 anos, que passou 155 dias no cativeiro. Maior exportador de carne do Brasil, o empresário ficou todo o tempo fechado num quarto, provavelmente numa chácara, em Quatá, na região de Assis, no interior paulista. Investigação de um ano e meio Ciechanovicz é considerado pela polícia o mais perigoso seqüestrador e líder do bando mais bem organizado de São Paulo. O grupo é suspeito de 15 seqüestros. "A prisão foi um trabalho de investigação de um ano e meio que partiu do crime para o criminoso", disse o delegado Ivaney Cayres de Souza, diretor do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc). Após ser detido, o seqüestrador telefonou ao cativeiro e ordenou que Bertin fosse solto. Seus comparsas obedeceram. Colocaram a vítima no porta-malas de um carro e libertaram-no na rodovia Manilo Gobbi, perto de Assis (SP). Bertin estava caminhando em direção à cidade quando passou um ônibus escolar, que lhe deu carona, levando-o até Assis, de onde telefonou à família. Seu filho Natalino foi buscá-lo de avião. Estava acompanhado por dois policiais. Por volta das 9 horas, o patriarca da família chegou ao aeroporto de Lins (SP), cidade em que mora, onde era esperado por parentes e amigos. Bertin havia sido seqüestrado em 8 de setembro, por volta das 7 horas, por cinco homens que estavam em uma Blazer. O seqüestro Naquela manhã, como era seu hábito, saiu de Lins e foi para a Fazenda Santa Adélia, na Rodovia David Eid, que liga aquela cidade ao município de Sabino. Ia apanhar leite. Quando saiu da estrada com sua F-250 e passou pela porteira da fazenda, foi seguido por uma Blazer. Armados com pistolas e fuzis, os bandidos dominaram Bertin, seu motorista e quatro empregados da fazenda, três homens e uma mulher, entre eles o administrador. Todos os empregados foram amarrados com fita adesiva de PVC e deixados no meio de uma picada. Bilhete Os criminosos entregaram um bilhete datilografado ao administrador. Nele diziam que se tratava de um seqüestro e exigiam US$ 3 milhões de resgate. Prometiam entrar em contato por telefone em 30 dias e afirmavam que, se alguém fizesse isso antes, não seriam eles, mas um trote. Os seqüestradores levaram Bertin na F-250, que foi seguida pela Blazer. Depois de alguns quilômetros, eles se encontraram com os dois homens que lideram o bando, entre eles Ciechanovicz, que levaram o empresário para o cativeiro. Segundo o delegado Wagner Giudice, da Divisão Anti-Seqüestro (DAS), os cinco homens que participaram da captura da vítima foram contratados para o serviço e receberam adiantado. Após uma hora e meia, um dos empregados soltou-se e telefonou aos parentes de Bertin, que chamaram a polícia. A F-250 foi achada dois dias depois, a dois quilômetros da fazenda do empresário. A Delegacia de Investigações Gerais de Lins e a DAS passaram a apurar o caso. Ao mesmo tempo, o Denarc já fazia uma investigação paralela sobre o bando de Ciechanovicz, que ia terminar com a prisão do acusado e na libertação da vítima. Quinze dias depois, dois dos homens que participaram da captura de Bertin foram presos pela polícia e reconhecidos por funcionários do empresário. José de Anchieta Fontes, de 39 anos, e Manuel Rodrigues Cândido negaram a participação no crime. Eles já estiveram presos antes por roubo. Barganha Na data marcada pelos bandidos no bilhete, os seqüestradores telefonaram à família. Exigiram o pagamento do resgate, caso a família quisesse rever Bertin com vida. Não deram tempo para que os parentes da vítima fizessem contraproposta e desligaram. Em 25 de outubro, os bandidos fizeram nova ligação e disseram onde a família devia apanhar uma fotografia. Nela, Bertin segurava a edição nacional do Estado de 24 de outubro. Na frente dele, o bando expôs parte de seus fuzis. Era a prova de que ele estava vivo. A família ofereceu R$ 1,2 milhão, mas os criminosos insistiram nos US$ 3 milhões. Em 31 de janeiro, baixaram o valor para US$ 1 milhão. Na madrugada de 7 de fevereiro aceitaram diminuir o resgate para US$ 700 mil. O pagamento e a libertação da vítima pareciam iminentes. Cerco e rendição Mas no mesmo dia, com vazamento para a imprensa da informação de que o Denarc investigava Ciechanovicz, os seqüestradores pararam de contatar a família. Houve apreensão na polícia. Mas os homens do Denarc, com o auxílio da Polícia Federal, localizaram o chefe do bando em Curitiba. Ele estava na casa de sua mulher, que foi cercada às 20 horas deste domingo. Oito horas depois, Ciechanovicz entregou-se. Chegava ao fim o seqüestro de Bertin. Veja como foi a prisão

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