Condições climáticas afetaram sistemas

Dados ainda são insuficientes para avaliar como a tripulação agiu

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Foto do author Marcelo Godoy
Por Bruno Tavares , Eduardo Reina , Marcelo Godoy e RENATO MACHADO E RODRIGO BRANCATELLI
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A lista de mensagens automáticas emitidas pelo Airbus A330 minutos antes de desaparecer no Oceano Atlântico e os comunicados técnicos divulgados pela Airbus e pela companhia aérea permitem aos investigadores traçar a mais provável hipótese para explicar a dinâmica do acidente. Ela envolve uma eventual pane nos pitots, os sensores externos responsáveis por registrar a velocidade aerodinâmica do avião e transmiti-la aos computadores. Uma violenta variação de pressão, comum em zonas de forte turbulência, ou o congelamento de um dos três pitots podem fazer com que os sistemas informatizados do jato "enlouqueçam", induzindo os pilotos a tomarem atitudes equivocadas. Segundo órgãos de segurança de voo europeus e americanos, essa falha já foi citada em diversos acidentes aéreos. Os pitots contam com sistema antigelo, mas o granizo e até mesmo um enxame de vespas pode danificá-los. Em 1996, a queda de um Boeing 757 que havia decolado da República Dominicana foi explicada pelas vespas que se alojaram no pitot - o erro na informação sobre a velocidade levou a tripulação a tomar atitudes erradas. Já o congelamento dos sensores é o que teria provocado a queda de um DC-9 da Austral, no Uruguai, que matou 74 pessoas. A leitura da caixa-preta da aeronave mostrou disparidades nas leituras de velocidade, o que levou o piloto a pensar que estava voando em uma velocidade muito baixa. Quando acelerou, o avião perdeu sustentação e se destruiu no ar. No caso do voo da Air France, a lista de 24 mensagens com alertas anormais começou a ser transmitida às 23h10 daquele domingo, conforme revelou anteontem a Télévision France2. As seis mensagens indicavam desligamento do acelerador e do piloto automáticos, falha do controle eletrônico (fly-by-wire), no funcionamento do leme e no dispositivo anticolisão. Na avaliação de investigadores ouvidos pelo Estado, os dados mais relevantes até aqui se referem ao desligamento do piloto automático e do acelerador das turbinas. A ação pode ter sido automática, por uma divergência de cálculos entre os computadores, ou uma decisão dos próprios pilotos. Dois minutos depois, mais três mensagens, todas relacionadas a panes de computadores importantes do avião, como os Adirus (unidade que informa nas telas da cabine dados como altura e velocidades vertical, no ar e proa). Os pitots são os principais provedores de dados para os Adirus. Embora haja procedimentos para reverter o congelamento, especialistas dizem ser difícil fazer isso rapidamente, o que leva a tripulação a voar sem orientação ou seguir dados errados. "Acho improvável que seja só o congelamento do pitot no caso do Airbus. Provavelmente foi uma combinação de situações, sendo que isso teve um grande peso", diz o comandante aposentado da Varig Luiz Bassani. "Os 4 minutos entre o primeiro e o último sinal são pouco tempo para congelar todos os pitot e provocar a queda do avião." Ao funcionar com dados equivocados, os computadores do avião trabalham para compensar os problemas. Uma das hipóteses é de que, nesse momento, o A330 tenha ganhado ou perdido velocidade rapidamente, o que provocaria queda por falta de sustentação. Sem uma providência eficaz dos pilotos - difícil dentro de uma turbulência -, a aeronave pode, em questão de segundos, atingir velocidades transônicas (estágio intermediário entre a velocidade para a qual o jato foi projetado e a velocidade supersônica). Os últimos dois alertas são um indício de que o Airbus já estaria descontrolado. Às 23h13, os computadores SEC1 e PRIM1, tidos como os "cérebros" do A330, acusaram falhas. Na sequência, surgiu o aviso de perda de pressão na cabine. O dado pode ser interpretado de duas formas: despressurização ou queda vertical.

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