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Conferência expõe a divisão de polícias no País

Polícia Civil, com apoio de federais e rodoviários, quer desmilitarização; enquanto isso, PMs pretendem assumir investigações e inquéritos

Por Bruno Paes Manso e BRASÍLIA
Atualização:

No primeiro dia de debates na Conferência Nacional de Segurança Pública, que ocorre em Brasília e vai definir princípios e diretrizes a serem seguidos no setor, policiais militares tiveram de discutir e lançar mão de bons argumentos para evitar o fim da corporação. A desmilitarização e a unificação da polícia, medidas defendidas principalmente pelos representantes da Polícia Civil, são encaradas pelos oficiais da PM presentes em Brasília como um duro golpe contra a corporação, caso sejam aprovadas. A polarização verificada na conferência entre militares e civis escancarou os problemas de convivência entre as corporações. Apesar de ameaçados, os PMs não ficaram na defensiva. Apostam na aprovação do ciclo completo para o trabalho dos policiais, que permitiria aos militares, além de exercerem a função de policiamento ostensivo, assumir a investigação e o inquérito policial para determinados tipos de crimes, papel atualmente restrito aos policiais civis. "Eu vejo a proposta de desmilitarização da polícia como uma tentativa de desviar a atenção dos assuntos mais importantes, como a criação do ciclo completo", afirma o major da PM paulista Azor Lopes da Silva Júnior, que veio a Brasília principalmente em defesa do ciclo. "A PM é um resquício da ditadura militar e essa herança afeta o dia a dia. Além da violência contra a população, se uma policial usa batom vermelho ou se um praça não engraxa a bota é severamente punido", afirma a delegada Bárbara Travassos, de Diadema. Para conseguir aprovar as propostas de desmilitarização, os policiais civis trouxeram a Brasília 3 mil camisas com o slogan "a sociedade é civil", sem contar uma grande diversidade de adesivos em defesa de unificação e desmilitarização. Essas propostas também contam com o apoio dos trabalhadores das Polícias Rodoviárias Federais e guardas-civis, além de grande parte da sociedade civil organizada, que será responsável por 40% dos votos da conferência. Já a Polícia Militar tem o apoio dos bombeiros e de parte dos integrantes do governo. Como revelou o Estado na quinta-feira, um documento em PowerPoint preparado pelo Ministério da Justiça para uma reunião com secretários estaduais de Segurança revelava posição contrária à desmilitarização e favorável ao ciclo completo de polícia para crimes de menor gravidade. Os representantes do governo tem direito a 30% dos votos. A polarização dos debates, no entanto, acabou frustrando aqueles que acreditam na relevância de outros temas na discussão de segurança pública. "Precisamos ampliar o leque dos debates, priorizar a discussão do compartilhamento das informações para investigar o crime", afirmou o secretário de Justiça, Romeu Tuma Júnior.

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