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Confusão marca estréia de vagões femininos no Rio

No fim da tarde, ninguém respeitou a lei que reserva um vagão em cada trem para evitar que mulheres sejam vítimas de assédio sexual

Por Agencia Estado
Atualização:

O primeiro dia de funcionamento dos vagões exclusivos para mulheres nos trens e metrôs do Rio foi marcado por confusão. Muitos homens desavisados entraram no carro errado. Outros sabiam da nova lei, mas descumpriam a norma porque o vagão estava "mais vazio". Foram educadamente convidados a sair por agentes de segurança, ou não tão educadamente por mulheres que não gostaram da "invasão". Mulheres aplaudiram os homens que deixavam os vagões. Mas muitos sentiram-se constrangidos. No fim da tarde, ninguém respeitou a lei que reserva um vagão em cada trem para evitar que mulheres sejam vítimas de assédio sexual. "Essa lei não vai pegar, nem deve. Daqui a pouco vai ter vagão para gay, idoso. Todos somos iguais perante a lei. Não é isso que diz a Constituição?", reclamou o analista de sistemas Cláudio Rodrigues, de 41 anos, que foi recebido com vaias femininas num dos trens da Supervia. Nas estações de partida, quando os vagões ainda estavam vazios, seguranças conseguiam controlar a entrada de homens. Ao longo do caminho, quando os carros ficaram cheios, não era mais possível. "Eu digo pro rapaz aqui na estação que o vagão é só para mulher, mas quando a porta abre já está cheio de homem. Como é que eu vou dizer que só ele não pode entrar?", reclamou um segurança do Metrô Rio. "Não temos poder de polícia". Luluzinha As amigas Juliana Nogueira, de 19 anos, e Cristina Oliveira, de 29, comandavam as vaias. "Estamos reclamando, e o pessoal está obedecendo. Aqui é o clube da Luluzinha. Tem que respeitar", disse Cristina. Tanto ela quanto Juliana contaram que já foram assediadas. "É uma situação terrível". Ildebrando dos Santos, de 34 anos, andou em vagões exclusivos tanto na ida para o trabalho quanto na volta para casa. Deu explicações desencontradas. "Entrei porque estava vazio, mas não deu para perceber mesmo. É difícil na correria perceber a faixa cor-de-rosa". Mas depois, acabou reconhecendo que não cumprirá a lei se não houver fiscalização. "Não vou andar em vagão cheio". Lei A lei do deputado Jorge Picciani (PMDB) obriga Supervia e Metrô Rio a destinarem um vagão por trem exclusivamente para mulheres no horário de maior movimento - entre 6 e 9 horas e das 17 às 20 horas. Nos metrôs, uma tarja rosa na parte superior da porta avisa que o vagão é exclusivo. Nos trens, o carro é identificado por um adesivo amarelo, com a figura de uma mulher (como a dos banheiros femininos). Picciani esteve cedo na Central do Brasil e não gostou de ver homens nos vagões exclusivos. "Hoje é o primeiro dia de fiscalização e tudo que é novo demanda tempo e informação até que se obtenha o resultado esperado. Tenho certeza que a medida será cumprida", disse o deputado, que vai se reunir com a direção das concessionárias para discutir a pouca adesão. Picciani viu composições superlotadas. "Esses vagões cheios demonstram o acerto da lei, que irá defender as mulheres, grandes usuárias do transporte, das possibilidades de assédio a que estão submetidas", disse o deputado. Ele propôs a lei depois que a ouvidoria da Assembléia Legislativa registrou queixas sobre o problema. Elas criticam A proposta dividiu as mulheres e foi criticada pelo movimento feminista, mas acabou aprovada no Dia Internacional da Mulher. As concessionárias informaram que estão se adaptando à nova lei e que orientaram os seguranças a alertar os usuários sobre a nova norma. Nos trens, a lei será divulgada também em mensagens pelos alto-falantes.

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