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Conpresp tomba igreja, palco de conflito em 1924

Réplica de templo francês, capela vizinha está protegida; em colina no Cambuci, local oferecia boa visão do centro

Por Vitor Sorano e Jornal da Tarde
Atualização:

Um dos palcos da Revolução de 1924 - iniciada por militares em 5 de julho daquele ano e que desaguou, mais tarde, na Coluna Prestes -, a Igreja Nossa Senhora da Glória foi tombada em 9 de dezembro do ano passado pela Prefeitura de São Paulo - a decisão foi publicada no Diário Oficial da cidade anteontem. Localizada no alto de uma colina no Cambuci, no centro da cidade, a igreja oferecia uma visão privilegiada da região e foi ocupada pelos rebeldes que tentavam derrubar o presidente Arthur Bernardes. Os combates contra as forças legalistas destruíram a torre de ardósia, avariaram o altar e deixaram as paredes perfuradas , segundo informações da Paróquia São Joaquim, responsável pelo local. A igreja faz parte do Conjunto Paisagístico Outeiro da Glória e é considerada um dos pontos iniciais da ocupação daquela área da cidade, afirma o arquiteto Dácio Araújo Benedicto Ottoni, integrante do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da São Paulo (Conpresp) e relator do processo de tombamento do templo. A construção foi concluída há 138 anos. O Cambuci foi fundado oficialmente há 102. O tombamento inclui a Capela Nossa Senhora de Lourdes, vizinha e anterior à igreja, construída como réplica da homônima existente na França, segundo a paróquia. Nesse caso, só as características externas têm de ser preservadas. Também estão protegidos o exterior da casa paroquial e do salão de atividades da igreja. Com a decisão, o entorno do conjunto também sofre restrições. Os imóveis existentes na área - em sua maioria casas térreas ou de dois andares - não poderão ser aumentadas. Vizinha da igreja, a arquiteta Rosangela Gaibina, de 50 anos, criticou o processo de tombamento, que levou mais de quatro anos para ser concluído. "Demoraram muito. Esperaram a descaracterização do entorno." Segundo ela, existe a informação de que a falta da mão em uma escultura na fachada é resquício da Revolução de 1924. "Não tenho informações sobre isso", diz Ottoni, do Conpresp. A reportagem procurou o padre responsável pela paróquia, mas não conseguiu localizá-lo. PRESTES A Revolução de 1924 foi deflagrada nas primeiras horas de 5 de julho daquele ano em São Paulo. Um grupo de militares, entre eles os irmãos Joaquim e Juarez Távora, sublevaram destacamentos do Exército e chegaram a montar um quartel-general na Estação da Luz. São Paulo chegou a sofrer ataque aéreo do governo na tentativa de conter o levante. Luiz Carlos Prestes iniciou sua participação no movimento no Rio Grande do Sul. A Coluna que leva seu nome, formada por civis e militares, percorreu o País na tentativa de levar a revolução a todos os cantos. Em 1927, parte dos integrantes, até mesmo o comandante, se asilaram na Bolívia. Na época, o presidente já era Washington Luís. ABERTURA DE TOMBAMENTO Em novembro, como revelou o Estado, o Conpresp abriu também o processo de tombamento de outros quatro imóveis, o que já impede modificações sem autorização do órgão. Entre eles está a casa do arquiteto Hans Broos, no Jardim Morumbi, zona sul. "A casa foi construída para uma sociedade de amigos, alunos e pessoas interessadas na urbanização. O tombamento não é para mim. É para a sociedade", afirmou o arquiteto, de 90 anos, hoje morador de Blumenau. Também está em curso o tombamento do interior do Cine Ipiranga. O prédio, construído em 1943 e desenhado pelo arquiteto Rino Levi - também responsável Teatro Cultura Artística -, já tem suas áreas externas preservadas. O local funcionou durante 62 anos. Os outros imóveis são a Chaminé União, na Mooca, zona leste, e a residência do maestro Furio Franceschini, perto do Parque da Independência, zona sul.

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