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Conselho apura morte de jovem após cirurgia plástica no PR

Suspeita-se que jovem sofreu uma hipertermia maligna, uma doença muscular rara

Por Agencia Estado
Atualização:

O Conselho Regional de Medicina (CRM) instaurou sindicância para apurar a atitude do médico Marcos Ceschin, responsável pela cirurgia da secretária Daniele Gonçalves de Freitas, de 25 anos, que morreu no sábado, 18, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, após cirurgia para implantar silicone nos seios. O processo corre em sigilo. A paciente morreu provavelmente por hipertermia maligna, uma doença muscular considerada rara. Trata-se de uma anomalia genética caracterizada pela falta de uma enzima que é desencadeada pela exposição a alguns agentes anestésicos. Segundo a mãe adotiva da secretária, Rosa Maria Martins, ela fez todos os exames prévios pedidos pelo médico, que não é especialista em cirurgia plástica, mas em clínica médica, cirurgia geral e medicina do trabalho. "Ela foi ótima", ressaltou a mãe. Apesar de ser contrária à cirurgia, a mãe disse que concordou, por ser um "sonho" que Daniele tinha. "Ela era muito caprichosa e gostava de andar bem." Recentemente, a secretária submetera-se a uma cirurgia de retirada das amídalas, sem que houvesse qualquer contratempo. O médico do Hospital Santa Madalena Sofia, pronunciou-se por meio de uma nota, dizendo que todas as características apresentadas pela paciente são de "hipertermia maligna". Segundo ele, a patologia é de "ocorrência raríssima, constituindo-se no temor de qualquer equipe cirúrgica, em qualquer serviço médico do mundo". "Esta patologia, mesmo bem tratada, costuma levar o paciente ao óbito em poucos minutos, portanto, após a sua ocorrência, as chances de sobrevivência são mínimas", afirmou. Ceschin acentuou já ter realizado cerca de 15 mil procedimentos cirúrgicos em aproximadamente 25 anos, sem registro de nenhum óbito. "Portanto, atribuímos a morte desta paciente a uma verdadeira fatalidade", acentuou. O presidente da Sociedade Paranaense de Anestesiologia, Pedro Paulo Tanaka, disse que, nesse caso específico, é preciso ouvir primeiro o anestesiologista que estava acompanhando a cirurgia. "Se é que houve a participação de algum", ressaltou. De acordo com ele, apesar da raridade da doença, que, segundo estudos, atinge um paciente em cada 250 mil, a mortalidade é alta, podendo chegar a até 70% dos casos. Por isso, a preocupação é antiga. Por meio de convênio com a Secretaria de Saúde de Curitiba, a sociedade, em tempo integral, fornece aos anestesiologistas um medicamento que pode ser ministrado após os primeiros sintomas. "Por isso, gostaria de ouvi-lo", disse. Sintomas Segundo ele, a evolução da doença depende de cada paciente. "Os casos fulminantes geralmente aparecem se já houve uma primeira exposição", ponderou. Normalmente, os sintomas evoluem entre duas e 24 horas após a aplicação do anestésico. O paciente aumenta a freqüência do batimento cardíaco e a temperatura corporal pode ultrapassar 40 graus. "Destrói a musculatura esquelética e uma substância, o potássio, vai para o coração", disse. "Por ter caráter hereditário, genético, se alguém na família apresentou algum histórico é preciso investigar." A presidente da regional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Ana Zulmira Badin, disse que, legalmente, qualquer médico pode realizar uma cirurgia plástica. Mas aconselhou os pacientes a escolherem aqueles que têm especialização na área. "É preciso que o paciente seja fiscal da segurança e da saúde dele", alertou. "Para isso, procure quem está mais capacitado." O médico Marcos Ceschin já responde a uma denúncia no conselho de ética do Conselho Regional de Medicina (CRM). A autora da denúncia, feita em outubro, foi a atendente desempregada Ilma Luciane Dias Proença, de 26 anos, que alega erro em uma cirurgia de desvio de intestino, para redução de obesidade. Segundo ela, exames com outro especialista apontaram a necessidade de nova cirurgia. Por estar em sigilo, o CRM não forneceu detalhes da denúncia e nem se o médico foi notificado. Segundo o CRM, no ano passado foram instauradas 500 sindicâncias no Estado, sendo 11 relacionadas a cirurgia plástica. Das sindicâncias, 159 transformaram-se em processos ético-profissionais, dos quais cinco sobre cirurgia plástica. Os processos ainda estão em andamento.

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