Corpo de menina sepultada há 10 anos estava intacto

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Por Agencia Estado
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Um caso estranho chamou a atenção de moradores de Guaíra, na região de Ribeirão Preto, no final de semana. Ao abrir-se a gaveta de uma sepultura vertical, onde seria enterrado o tio da menina Marli Aparecida Ribeiro, morta há quase dez anos, ao lado dela, o cadáver dela estava quase intacto, seco (a água do corpo secou), mas com a pele sobre os ossos e cílios, sobrancelhas e cabelos normais, além da própria roupa. Seria um estado de mumificação, que parentes da garota até pensaram ser milagre, embora não queiram que se pesquise o caso. Sem ver o corpo, mas com base em sua experiência profissional, Carmen Cinira Santos Martin, professora da Faculdade de Medicina, da Universidade de São Paulo (USP), e diretora do Centro de Medicina Legal (Cemel), ambos de Ribeirão Preto, o local onde a menina foi enterrada pode ter se transformado numa câmara, com temperatura, umidade, acidez e basicidade ideiais para a conservação do corpo. Marli, que tinha 12 anos, foi morta por asfixia e com duas facadas pelo padastro Uílson Feliciano (condenado em 1995), em 26 de maio de 1993. Seu corpo foi enterrado em cova rasa no fundo do quintal e ele só confessou o crime 16 dias depois. O corpo já estava em processo de decomposição quando foi desenterrado, mas a família nega que produtos químicos tenham sido usados durante a autópsia. No último sábado, o tio da menina, José Pereira Filho, de 32 anos, morreu em acidente de moto, em Ribeirão Preto, e os familiares decidiram sepultá-lo com Marli. No domingo descobriram o estado do cadáver e ficaram intrigados. Até o precário caixão estaria em perfeito estado. A mãe Maria Aparecida da Silva, de 40 anos, não quer polêmica e o corpo foi transferido para outro túmulo. Pereira Filho ficou na sepultura de sua filha. Para Carmen Cinira, em tese, o caso pode ser um fenômeno de conservação de forma natural ou artificial. Na interferência artificial seria um processo de embalsa Carmen Cinira cita o exemplo do Cemitério dos Inocentes, em Paris, que virou ponto turístico, pois descobriu-se, após uma guerra, que centenas de cadáveres estavam mumificados. O solo tem condições adequadas para que os corpos não apodreçam. "Como abro muitos túmulos, vi muitos casos assim, não é uma raridade." "Se não puseram nada no corpo dela, a temperatura e a umidade do local ou o corpo dela favoreceram a mumificação", diz Carmen Cinira, que, no entanto, acredita no uso de produtos químicos, já que o corpo de Marli estava em decomposição quando descoberto. "Minha hipótese é que ela foi muito manipulada." A mumificação, segundo ela, pode ocorrer de duas formas: petrificação (duro, rígido) ou saponificação (mole, como sabão). Segundo ela, os ossos, dentes, cabelos e cílios de Marli, intactos, são normais, pois são preservados. Para saber-se o real motivo do estado do corpo de Marli, seria necessária a realização de uma pesquisa aprofundada.

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