Corpo de menino morto na Maré é enterrado no Rio

Moradores acusam policiais militares de terem disparado contra o garoto de 8 anos, que saía de casa

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O corpo do menino Matheus Rodrigues Carvalho, de 8 anos, morto com um tiro da fuzil na Favela Baixa do Sapateiro, foi enterrado nesta sexta-feira, 5, no Cemitério São Francisco do Xavier, no bairro do Caju. Durante a cerimônia, uma testemunha chegou a afirmar que viu um policial militar atirar, sair chorando e largar a arma dizendo "matei uma criança". Matheus foi atingido por um tiro no pescoço na manhã da quinta-feira, 4, na Baixa do Sapateiro, uma das favelas do Complexo da Maré, na zona norte do Rio. Matheus saía de casa quando foi atingido. Os moradores dizem que não houve trocas de tiro no local e acusam policiais militares de terem feito o disparo. Eles impediram que os PMs levassem o corpo da criança, exigiram a perícia e fizeram manifestações nas Linhas Vermelha e Amarela, em repúdio. Um carro foi incendiado. A 5 km da casa de Matheus, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou o projeto Territórios de Paz, no Complexo do Alemão, prometendo uma polícia menos violenta. O menino saía de casa para comprar pão às 7h30. Ele morava com a mãe e sete irmãos numa casa que já serviu de sede para uma igreja evangélica, num beco. Estava sobre o degrau da entrada, 50 centímetros acima do nível da rua. Quando colocou o corpo para fora, foi atingido. Família e vizinhos, revoltados, culparam a PM e acompanharam a perícia. A mãe diz que ouviu um tiro e viu um policial sair correndo na seqüência. Foto: Wilton Júnior/AE Mãe de Matheus se desespera durante a cerimônia no Cemitério São Francisco Xavier O comandante do 22º BPM (Maré), tenente-coronel Rogério Seixas Cruz, também foi ao local do crime, mas foi rechaçado pelos moradores, aos gritos de "assassino". O comandante das Unidades Especiais, Álvaro Garcia, garantiu que os PMs não fizeram disparos na favela. "Foi uma troca de tiros de marginais de facções rivais. Os policiais estavam saindo do 22º Batalhão e foram verificar o tiroteio. Houve dispersão dos vagabundos. Os policiais arrecadaram uma mochila, com armas, drogas e rádios de transmissão. Ao chegarem à delegacia para apresentar o material apreendido, souberam que um garoto havia sido baleado", disse Garcia, que já comandou o 22º BPM. Perícia A perícia que esteve no local só encontrou o projétil que matou Matheus. Não havia outras cápsulas. Os policiais - dois sargentos, um cabo e um soldado - entregaram na delegacia as armas que usavam: quatro fuzis e quatro pistolas. O delegado Carlos Eduardo Almeida disse que o número do carro usado por essa equipe difere do que foi anotado por moradores da Baixa do Sapateiro. "Vou fazer levantamento nos batalhões da região para tentar localizar a viatura", afirmou o delegado. Ele não permitiu imagens das armas dos policiais nem da mochila que eles, supostamente, teriam apreendido na favela. "Tenho duas versões, de dois lados diferentes, que tradicionalmente contam a mesma história nesse tipo de episódio. Vou esperar o laudo da perícia e a localização da viatura", afirmou Almeida. Foto: Wilton Júnior/AE Familiares, amigos e moradores do Complexo da Maré acompanham a cerimônia do enterro do corpo A morte de Matheus revoltou os moradores. Inicialmente, eles interditaram uma pista da Linha Vermelha. Depois, incendiaram o carro de uma empresa de ônibus na Linha Amarela. Para dispersar o grupo, policiais militares fizeram disparos para o alto e lançaram bombas de efeito moral. Por volta das 13 horas, outro grupo de moradores tentou interromper o tráfego na Avenida Brasil. Eles chegaram a posicionar um caminhão de lixo junto à pista. O veículo tinha os bancos embebidos em álcool. A polícia impediu o protesto. Moradores chegaram a lançar bombas de fabricação caseira contra os policiais. O Batalhão de Choque reforçou o policiamento. Trata-se de mais uma tragédia familiar envolvendo PMs neste ano no Rio. Na noite do dia 7 de julho, policiais militares que perseguiam bandidos teriam confundido o carro de Alessandra Soares com o carro de criminosos que perseguiam. O soldado Elias Gonçalves Neto e o cabo Willian de Paula acertaram 17 tiros no carro da família. O menino João Roberto de 3 anos foi atingido por três disparos e morto a menos de 50 metros de casa, na Tijuca, zona norte. Os policiais seguem presos. (Com informações de Clarissa Thomé, de O Estado de S. Paulo)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.