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Corregedor da Câmara foi escudeiro de Severino

Cria política do ex-presidente da Casa, deputado Eduardo da Fonte emprega em seu gabinete funcionária envolvida no caso do mensalinho, em 2005

Por Leandro Colon
Atualização:

Uma cria política de Severino Cavalcanti é o novo corregedor da Câmara dos Deputados. Eleito anteontem para o cargo, o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), conhecido como Dudu, entrou na política como assessor de Severino, que renunciou à Presidência da Casa em 2005 em meio a um escândalo de pagamento de propina.O novo corregedor emprega em seu gabinete a funcionária Gabriela Kênia Martins. Ela também trabalhou para Severino e ficou conhecida por receber, nominalmente, um cheque de R$ 7,5 mil do chamado "mensalinho" pago ao ex-patrão por Sebastião Buani, dono de um restaurante contratado pela Câmara na época.Eduardo da Fonte, 38 anos, era um fiel escudeiro de Severino quando estourou o escândalo. Foi lotado na assessoria entre março e outubro de 2005. Era sempre visto ao lado do deputado, carregando pastas e papéis. Após a crise em torno do chefe, decidiu se aventurar sozinho pela primeira vez nas urnas. Foi eleito deputado federal em 2006 e reeleito em 2010, com 330 mil votos. Presidiu a CPI da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e, anteontem, foi escolhido segundo vice-presidente da Câmara, cargo que acumula, entre outras funções, a corregedoria. Cabe ao corregedor fiscalizar e investigar possíveis irregularidades cometidas pelos parlamentares. Fonte sucede a ACM Neto (DEM-BA).Autopromoção. Hoje, Severino Cavalcanti é prefeito do município de João Alfredo (PE) e Eduardo da Fonte, além de deputado, preside o PP de Pernambuco. Uma análise nas despesas do corregedor com a verba indenizatória - dinheiro extra para custear o mandato - revela que ele prefere usar o dinheiro da Câmara para promoção pessoal.Metade da verba disponível em 2010, cerca de R$ 180 mil, foi parar em um jornal feito por seu gabinete e nos gastos com o envio do material aos eleitores. Somente em dezembro o deputado gastou R$ 115 mil da Câmara para imprimir e distribuir um jornal de quatro páginas a 145 mil eleitores. Na publicação, o corregedor agradece, num artigo pessoal, pelos votos recebidos nas eleições. "Agradeço a Deus essa votação maravilhosa", disse.A Câmara proíbe o uso da verba indenizatória com a divulgação do mandato nos seis meses que antecedem as eleições. O deputado então aproveitou para fazer isso em março e dezembro. Foram R$ 60 mil para imprimir e enviar o material aos eleitores no primeiro semestre. Nos meses seguintes, ele fez economia para poder sobrar dinheiro em dezembro, já que a Câmara permite que o deputado defina a divisão dos valores durante o ano. A mesma prática ocorreu em 2009.Procurado, o deputado disse que cumprirá o regimento na função de corregedor. "Serei rigoroso", disse . Ele minimiza a relação com Severino. "Trabalhei com ele, mas depois o derrotei em 2006 nas urnas e hoje temos uma relação boa", disse. Em relação à contratação da assessora Gabriela Martins, ex-funcionária de Severino, o deputado alegou que ela é "competente e mãe da família".À Justiça Eleitoral, ele declarou um patrimônio de R$ 871 mil. É sócio da ADPL Motors, que recebeu R$ 239 mil do governo. Seu pai foi membro, indicado pela Câmara, do Conselho Nacional do Ministério Público. PARA LEMBRARRenúncia para fugir de cassaçãoEm setembro de 2005, o então deputado e presidente da Câmara Severino Cavalcanti foi acusado de cobrar propina do empresário Sebastião Augusto Buani, dono de um dos restaurantes da Câmara, no 10.º andar do anexo 4 da Casa. Severino negou as acusações e disse que estava sendo chantageado pelo empresário, que, segundo ele, teria uma dívida de cerca de R$ 150 mil com a Câmara, por não pagar o aluguel do espaço do restaurante. Os partidos da oposição entraram com pedido de cassação de Severino, que, para fugir do processo, renunciou ao mandato de deputado no dia 21 de setembro.

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