Corte vai atingir projetos de urbanização

Orçamento menor deve afetar as 31 subprefeituras; já há crise na Câmara

PUBLICIDADE

Por Diego Zanchetta
Atualização:

O corte de R$ 2,2 bilhões no Orçamento de São Paulo deve atingir as 31 subprefeituras e os programas municipais que contam com repasses de verbas federais e estaduais, como a reurbanização de 118 áreas de ocupação, a conclusão do Complexo Viário Jacu-Pêssego e a recuperação de mananciais. O relatório com o indicativo das reduções será divulgado pelo vereador Milton Leite (DEM) na segunda-feira, quando a nova estimativa de receita será colocada em votação na Comissão de Finanças da Câmara Municipal. A falta de informações precisas sobre o corte de 7,5% na peça orçamentária, divulgado ontem por Leite e realizado com o aval do prefeito Gilberto Kassab (DEM), já provoca uma crise na Câmara. Vereadores do PT e do "centrão" obstruíram ontem a votação da isenção do Imposto Sobre Serviços (ISS) para 715 mil profissionais autônomos, projeto do Executivo e uma das promessas de campanha do prefeito reeleito. Os parlamentares argumentaram principalmente a falta de informações sobre o relatório de Leite para não votarem o projeto. O Orçamento caiu de R$ 29,4 bilhões para R$ 27,2 bilhões com a redução. Segundo o líder do governo, José Police Neto (PSDB), o indicativo de corte deve ser feito nas áreas que poderão ter, com o crescimento da crise financeira, diminuição de receitas por causa da redução de repasses dos governos federal e estadual. A reportagem também apurou que subprefeitos já foram avisados para adotar medidas de contingenciamento de despesas a partir de janeiro. "A realidade é dinâmica, muda. O Orçamento foi elaborado em setembro. O presidente Lula falou na época que enfrentávamos uma marola, mas agora já sabemos que teremos um crescimento inferior a 3,5%. É lógico que com a iminência de redução de repasses do governo federal o Município deve sentir os efeitos", declarou Police Neto. "A crise poderá resultar na diminuição da projeção de receitas do Município em algumas áreas que contam com repasses da União e do Estado. O indicativo (de corte) deve ser feito com base nessa projeção de redução de repasses. Só que isso não significa que teremos de fato um corte, é apenas o indicativo mediante a crise." Se forem projetados cortes nas áreas com repasses do Estado e da União, a recuperação de mananciais como a Guarapiranga e a Billings e a reurbanização de Heliópolis, por exemplo, estarão sujeitas a cortes. O secretário municipal de Finanças, Walter Aluísio, contudo, diz que não haverá por enquanto apenas redução de "despesas correntes". "O que vamos fazer num cenário de crise é reduzir as despesas como os gastos de materiais, com energia elétrica, xerox, coisas do dia-a-dia. E também a revisão de contratos é sempre uma medida de contingência adotada pelo governo. Na área social nada será cortado", argumentou o secretário, que diz ser favorável à manutenção do Orçamento integral de R$ 29,4 bilhões. O relator do Orçamento afirma que indicará a necessidade da manutenção dos projetos sociais e nas áreas da saúde, educação e transportes. "Meu relatório não está pronto, vou definir os cortes em conjunto com o governo durante o final de semana", afirmou Leite. OBSTRUÇÃO Para a oposição, o secretário de Planejamento, Manuelito Guimarães, tem de ir à Comissão de Finanças explicar o corte. "Todo mundo que assistiu à campanha do Kassab viu a promessa de um orçamento de R$ 30 bilhões e, de repente, a Câmara se vê com um corte de R$ 2 bilhões, sem explicação", criticou o líder do PT, Arselino Tatto. Os vereadores também colocam como condição para votar a isenção do ISS e a nova estimativa de Orçamento a aprovação de projetos pessoais. "Não é um problema do PT só (a obstrução). Todo vereador quer ter um projeto aprovado. Eu também quero aprovar os meus", disse no plenário Wadih Mutran (PP), da base governista.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.