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Cortes na Divisão Anti-Seqüestro provocam protestos

Por Agencia Estado
Atualização:

A decisão da polícia de São Paulo, de reduzir em mais de um quarto o efetivo da Divisão Anti-Seqüestro (DAS) e transferir a ronda 24 horas para outro setor assustou quem já sofreu na pele as conseqüências de um seqüestro. Parentes e vítimas do crime que mais cresceu nos últimos anos no Estado ficaram surpresos com a decisão de enxugar a DAS logo agora que o número de seqüestros começou a cair. "Não consigo ver nenhum sentido numa decisão dessa. E o que mais me decepciona e chama a atenção como cidadão que acredita neste governo é que isso tenha ocorrido logo após a eleição", disse nesta quinta-feira um empresário cuja filha ficou seqüestrada no ano passado, por mais de dois meses. Ele pediu que seu nome não fosse revelado. "Não sou fulano ou beltrano. Sou mais um que sofreu as conseqüências desse crime odioso." Delegados e policiais que atenderam casos de seqüestros receberam nesta quinta-feira diversos telefonemas de vítimas que se mostraram preocupadas. A decisão de reduzir o efetivo da DAS foi tomada pelo diretor do Departamento de Investigação sobre o Crime Organizado (Deic), Godofredo Bittencourt Filho. A medida tem aprovação do secretário da Segurança Pública, Saulo Abreu. Trinta policiais e oito veículos que faziam rondas em locais com maior ocorrência de seqüestros para tentar prevenir crimes checavam denúncias anônimas e davam apoio em operações de estouro de cativeiros serão transferidos para o Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra).] No ano passado, o Garra esteve envolvido em denúncias de corrupção sobre suposto esquema de uso de carros da polícia no serviço de segurança para empresas. A DAS foi criada em setembro de 2001, quando recebeu os 30 homens e os oito veículos para a realização de rondas. O objetivo era complementar trabalho de outros 80 policiais responsáveis pela investigação e pelo acompanhamento dos casos de seqüestro. Naquela época, apenas na capital, 43 pessoas eram mantidas em cativeiros. A partir do segundo semestre do ano passado, os números começaram a cair de fato. A redução do número de seqüestros passou a ocupar espaço nas propagandas do governo de Geraldo Alckmin (PSDB), que iniciava a disputa por novo mandato. Em 2002, 92 casos foram esclarecidos pelas DAS e 88 cativeiros foram encontrados. Hoje, apenas três pessoas estão seqüestradas, de acordo com a polícia. "Não entendo de polícia, mas acho que reduzir o número de policiais só vai ajudar os bandidos", disse uma estudante que foi seqüestrada no segundo semestre de 2002. Ela acabou sendo libertada pelos agentes da DAS antes de sua família pagar o resgate. "Se quando tinha mais policiais eu fui pega, imagina se diminuir." O empresário Massataka Ota, de 46 anos, teve o filho Ives, de 8, seqüestrado e morto, em 1997, por dois policiais militares e um motoboy que trabalhavam como seguranças em sua loja. Hoje, o primo de segundo grau de sua mulher, o comerciante Milton Hatsumi Takushi, de 35 anos, foi libertado por PMs da 8ª Companhia do 29º Batalhão, após ser mantido num cativeiro, na Favela da Parada 15 de Novembro, zona leste, desde a noite de domingo. Os seqüestradores - nenhum foi preso - exigiam R$ 200 mil de resgate. A polícia chegou ao local graças a uma denúncia anônima e a vítima ainda apanhou dos bandidos. "Se diminuiu o número de seqüestros, o certo era aumentar ainda mais o número de policiais", disse Ota. Para ele, a decisão de enxugar a DAS vai ser um incentivo para os bandidos. "A população, que vive com medo de ser seqüestrada, tinha de gritar contra isso. Na época da morte do meu filho eu gritei, mas não adiantou muito."

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