CPI ouvirá comandante da FAB sobre pilhagem de vítimas da Gol

Em nota, Aeronáutica não explica sumiço de bens e diz que era impossível isolar toda a área do acidente

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Por Christiane Samarco e Luciana Nunes Leal
Atualização:

A CPI do Apagão Aéreo da Câmara vai ouvir amanhã o depoimento do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, sobre a pilhagem de documentos e objetos de vítimas do acidente com o Boeing da Gol, em 29 de setembro do ano passado, que deixou 154 mortos. O presidente interino da CPI, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse ontem que Saito será questionado sobre as denúncias, publicadas pelo Estado no último domingo. A reportagem mostrou que o documento de uma vítima chegou a ser usado para obtenção de um financiamento para a compra de um carro. Em outro caso, o celular de uma das vítimas foi parar no Rio. O receptador do aparelho ligou para o marido da vítima e informou sobre o roubo. Os parlamentares das CPIs da Câmara e do Senado se disseram estarrecidos com as notícias da pilhagem. O deputado Wanderley Macris (PSDB-SP) anunciou que encaminhará requerimento para que a Aeronáutica dê informações oficiais sobre a responsabilidade da guarda dos bens dos 154 mortos. O presidente da CPI do Senado, Tião Vianna (PT-AC), também pedirá informações à Aeronáutica. ''''Tenho grande respeito pela Aeronáutica e acredito que eles trabalharam com responsabilidade. Mas vamos pedir um esclarecimento, porque ficou claro que há um ponto de vulnerabilidade. É um caso estarrecedor e mostra o nível civilizatório em que está a sociedade'''', lamentou Vianna. Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), a pilhagem ''''é mais um fator que mostra o tamanho da falta de estrutura (no setor aéreo) e um motivo a mais para o drama das famílias''''. Fruet defende que seja aberta uma investigação para tentar recuperar os bens que famílias acreditam terem sido pilhados. Segundo Eduardo Cunha, a partir das informações de Saito, a CPI vai decidir que outros órgãos do setor aéreo ou da polícia deverão prestar esclarecimentos. FAB Sem ter uma explicação para o sumiço de documentos e objetos das vítimas, o comando da Aeronáutica divulgou ontem uma nota oficial dizendo que foi ''''impossível isolar toda a área durante a operação de resgate'''' porque os destroços da aeronave estavam espalhados por uma grande região de floresta. Na nota, a Aeronáutica procura dividir responsabilidades, relatando que o trabalho durou 44 dias e envolveu ''''mais de 800 pessoas, de diversos órgãos públicos federais e estaduais, entre militares, policiais e legistas''''. A FAB diz que ''''lamenta os fatos noticiados, onde documentos pessoais de vítimas do acidente da Gol teriam sido utilizados em transações diversas, supostamente de forma fraudulenta''''. A nota, assinado pelo porta-voz da Aeronáutica, brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudez, afirma que ''''logo na primeira semana, no local dos destroços, os militares encontraram os primeiros grupos de pessoas estranhas à operação, que imediatamente foram orientados e conduzidos para fora da área de busca''''. Segundo o brigadeiro, a operação de resgate montada pela FAB ''''teve como objetivo principal'''' a busca e resgate de sobreviventes. A Aeronáutica lembrou que, inicialmente, os documentos foram manuseados pela Polícia Civil de Mato Grosso. Das mais de 4 toneladas que embarcaram no vôo, 1,6 tonelada foi encontrada pelas equipes de resgate e entregue à Gol, em Brasília, ao final da operação.

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