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Crack e cocaína viram portas de entrada nas drogas para crianças

Pedras misturadas com tabaco já viciam classes mais altas; atendimento em centros sociais dobrou em 2 anos

Por Fernanda Aranda
Atualização:

Antes consideradas as últimas etapas do ciclo de consumo, o crack e a cocaína viraram a porta de entrada nas drogas para crianças de, em média, 13 anos. Estudo nos centros estaduais de atendimento de São Paulo mostra que, em dois anos, dobrou o número de menores de idade em tratamento intensivo, passando de 179 registros em 2006 para 371 no ano passado, um aumento de 107%. Para os especialistas, a presença maior desses dois tipos de entorpecentes reflete três estratégias de mercado que passaram a ditar o tráfico: fidelização da clientela cada vez mais cedo; facilitação do acesso a drogas de todos os tipos e diversificação do público consumidor. "Todo negócio exige ampliar o consumo e o crack não poderia continuar sendo tão restrito", afirma Luizemir Lago, responsável pela política antidrogas do Estado e uma das responsáveis pelo levantamento. "Tanto é que está sendo cada vez mais comum os meninos e meninas, em especial os de classe econômica mais favorecidas, usarem o chamado ?petilho?, pedras de crack trituradas e misturadas ao tabaco comum. São mais simples de usar, mas o impacto cerebral (por ser inalado) é imediato e destrutivo." No cachimbo segurado pela mão de um menino de rua ou na pedra triturada misturada ao cigarro fumado por um garoto da classe média, o crack já não é mais consumido por apenas um estereótipo de viciado. A compulsão está em todas as classes sociais. E o mesmo caminho, só que ao inverso, foi trilhado pela cocaína, anteriormente servida em bandejas para os endinheirados e hoje presente também entre os mais pobres. No baile funk da favela ou nas festas de debutantes em bufês, aumentam as vítimas. Inaugurada no fim de janeiro, a clínica Jovem Samaritano, primeira instituição pública de internação para adolescentes dependentes, é a prova de que o pó virou droga de estreia. Todos os meninos que foram levados para o local, por determinação judicial, encaminhamento do conselho tutelar ou serviço de saúde, respondem com a palavra "cocaína" quando indagados sobre o motivo para a chegada "ao fundo do poço".

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