Cresce número de assaltos na Avenida Paulista

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Eram 18h30 do dia 16 de abril. A jornalista Fabiola, dirigindo um Corsa a caminho de casa, parou na faixa da esquerda, ao lado do canteiro central, diante do semáforo da Avenida Paulista com a Alameda Campinas. Do meio de um grupo de pedestres saiu um adolescente, aparentando 16 ou 17 anos. Armado com um caco de vidro, obrigou-a a abrir o vidro do carro. "Passa o dinheiro", ordenou. Fabiola lhe entregou várias notas de R$ 1,00. Ele achou pouco e pediu a bolsa, o rádio, o celular. O sinal abriu. Por impulso, ela acelerou o carro e se livrou do rapaz. Era o segundo susto em cinco dias, na mesma avenida. No dia 11, às 9h30, no cruzamento com a Rua Peixoto Gomide, Fabiola havia sofrido uma tentativa de roubo por um menino aparentando 12 anos acompanhado de outros dois garotos. Ela escapou porque o menino não conseguiu abrir o vidro do carro. Essas histórias ilustram uma situação preocupante. Os índices de violência aumentaram na Avenida Paulista, cartão-postal de São Paulo. Dados do Infocrim (Informações Criminais) da Secretaria de Estado da Segurança Pública de SP mostram que, em 2002, até 18 de abril, ocorreram 15 roubos desse tipo na avenida, número igual ao registrado em todo o ano de 2001. Quando o roubo é praticado por menor, é classificado como ato infracional. O Infocrim é abastecido a partir de boletins de ocorrência registrados nos distritos policiais. Inclui dados de trânsito, mas a maioria é criminal, do tipo furto e roubo de pedestres, em veículos, no comércio. Para se ter uma idéia da gravidade do problema, o Infocrim mostra que em toda a extensão de 3 quilômetros da Avenida Paulista foram registradas 321 ocorrências em 1999, 618 em 2000 (aumento de 92,52%) e 758 em 2001 (crescimento de 22,65%). Em 2002, até 18 de abril, o total de ocorrências atinge 227 registros. Essa situação obrigou a Polícia Militar a reforçar o policiamento na avenida. Conversando com pessoas na Avenida Paulista, não é difícil encontrar outras vítimas. A relações-públicas A. C., de 30 anos, estava às 14 horas do dia 16 de abril na esquina com a Rua Padre João Manuel, quando um garoto aparentando 14 anos tentou arrancar a bolsa da sua mão. Ela deu uma rasteira no menino, ele caiu e correu. As alças da bolsa ficaram arrebentadas, mas A.C. conseguiu evitar que ela fosse levada. "Ninguém veio me ajudar", ela se queixou, referindo-se a outras pessoas na calçada, que se limitaram a olhar a cena. São constantes as críticas à falta de policiamento na avenida. "O policiamento na Paulista é precário", diz A.C. "À noite, não tem polícia", reclama um comerciante próximo ao cruzamento com a Alameda Campinas. Ele diz que foi assaltado cinco vezes em 2001 e, assustado, prefere não se identificar. "É muito arriscado." Também são inevitáveis as comparações. "Se o cartão-postal está assim, imagina o resto da cidade, a periferia. Eu acho que a cidade está passando por um processo de violência fora do comum", critica Fabiola. Para ela, as duas experiências foram tão marcantes que, nesta terça-feira, oito dias após o roubo praticado pelo adolescente com caco de vidro, ela ainda recordava o ataque com nitidez de detalhes. "Ele enfiou o cotovelo direito (dentro do carro) e, na mão esquerda, tinha o caco de vidro." Para o comerciante Alan Ricardo Calió, de 23 anos, a situação é "horrível". "Nós somos trabalhadores, cumprimos as nossas obrigações, e ficamos à mercê de bandidos", afirma. Ele se queixa de furtos de mercadorias na sua loja.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.