Cresce número de síndicos jovens

Estudo mostra que metade dos condomínios da cidade já está nas mãos de gente com 31 a 49 anos de idade

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Por Sérgio Duran
Atualização:

A maior novidade do dia do síndico, comemorado hoje, é que os aposentados foram aposentados da função. Profissionais antigos do setor de administração de condomínios e pesquisas de empresas do ramo constataram que cada vez mais jovens estão se elegendo para o cargo. No lugar daqueles folclóricos senhores ou senhoras experientes, às vezes ranzinzas, estão entrando jovens com formação superior, cheios de teorias, idéias e choques de gestão. Pesquisa da Lello, a maior empresa do setor no Estado, com 1.100 condomínios, revelou que 50% dos síndicos paulistas têm entre 31 e 49 anos e 70% são do sexo masculino. Na região do ABC, a faixa etária é ainda menor - 77% têm menos de 30 anos. Outro dado interessante diz respeito à formação: 65% dos síndicos têm nível superior e 13% deles são pós-graduados. "De repente, mais pessoas passaram a morar em condomínios, e, pela expansão do mercado imobiliário, cada vez mais outras virão. Isso está modificando a cultura, a participação e o dia-a-dia do condomínio", considera a gerente Angélica Arbex, da Lello. "O fenômeno vem atraindo muitos profissionais interessados na experiência." Foi com a intenção de aplicar os conhecimentos adquiridos na faculdade que o funcionário público Rodrigo de Souza Brasil, de 27 anos, topou encarar o desafio de cuidar do condomínio onde mora, em Guarulhos, com nada menos que 160 apartamentos. Dois anos se passaram desde então, e Brasil conta ter criado uma série de novas práticas e serviços. A medida mais recente foi individualizar a conta de gás dos condôminos, último recurso para combater uma inadimplência de 40%. "Enfrentei muitos problemas nesse tempo todo. Cheguei a ser ameaçado de morte por defender o regulamento do condomínio de forma enérgica e detalhista, autuando até quem esquece de colocar a identificação do carro no estacionamento", conta o síndico. Ter a autoridade questionada na hora de aplicar multas é a parte desagradável da função, não importa o padrão do condomínio. Ayanna Araújo, de 24 anos, enfrenta a mesma dificuldade na hora de chamar a atenção de alguém no condomínio de 20 apartamentos que administra na Vila Nova Conceição, zona sul de São Paulo. Para garantir pequenos luxos aos moradores, como um spa particular, ela conta com 30 funcionários. "São adolescentes andando de skate no garagem, festas que se estendem até de madrugada, cano estourado. Eles precisam de uma Ayanna 24 horas por dia à disposição. A gente vira um pouco babá também, trabalhando sem parar para que todos estejam bem", afirma. As mudanças nos condomínios, que ficaram maiores e passaram a oferecer mais serviços, e as novas leis e processos judiciais que colocaram o síndico muitas vezes no banco dos réus também contribuíram para expulsar os menos capacitados, que viam a função como um passatempo. É a avaliação de Fernando Oliveira Martins, presidente da Itambé, uma das maiores do País, no setor há 37 anos. "É uma mudança que vimos sentindo de dez anos para cá. Os mais antigos se desinteressaram, se desgastaram. Muitos condomínios também recorreram a síndicos profissionais, tamanha a gama de serviços que oferecem", analisa Martins. "A juventude contribuiu fazendo com que os novos síndicos ficassem mais atuantes." A síndica Cristiane Moraes, de 29 anos, decidiu assumir o comando do condomínio onde mora, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, por estar insatisfeita com o gestor na época. "Era experiente e paciente, porém muito lento em atender às necessidades do prédio. Havia várias salas que ainda não haviam sido decoradas desde que todos se mudaram para lá, na entrega do edifício", conta. Cristiane fez um projeto de gestão, propôs as mudanças e arregaçou as mangas. No começo, recorda-se, chegou a enfrentar resistência por ser jovem e por ser mulher. "Há um fator positivo na condição feminina: costumamos ser mais negociadoras. Tivemos problemas sérios de barulho no prédio e tive de exercitar esse lado", diz. Para o vice-presidente do Sindicato da Habitação (Secovi) na área de condomínios, Hubert Gebara, a juventude é uma faca de dois gumes nesse negócio. "Há o ímpeto reformador, sim, mas às vezes esse jovem se torna afoito para resolver problemas que pedem paciência", pondera. "Mas, certamente, o rejuvenescimento do síndico é um movimento irreversível. Ninguém se sustenta na função se não tiver conhecimentos de direito trabalhista, de defesa do consumidor e até de temas como meio ambiente", conclui. NÚMEROS 1.100 condomínios foram pesquisados 50% dos síndicos tinham entre 31 e 49 anos 70% eram do sexo masculino 65% tinham nível superior 13% eram pós-graduados 77% dos síndicos do ABC tinham menos de 30 anos

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