Crise mexeu com o mercado de recicláveis

China, maior importadora, deixou de comprar lixo da Europa; países passaram a acumular mais

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Por Redação
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Uma das suspeitas para o misterioso envio de lixo da Inglaterra para o Brasil pode estar no colapso do mercado de reciclagem britânico. Com a crise econômica, países como a China, o maior importador de lixo do mundo, deixou de comprar do Primeiro Mundo. Como resultado, pilhas de garrafas de plástico, latas de alumínio, papel, vidro e outros recicláveis se acumulam em países como EUA e Reino Unido. "Com a crise, o mercado de reciclados diminui muito e a China deixou de comprar o lixo do Reino Unido, o que teve um efeito em cadeia. Os depósitos de material reciclável daqui (Londres) não têm mais capacidade de receber nem um alfinete", diz a engenheira brasileira Isabela Souza, especialista em meio ambiente e desenvolvimento, consultora de sustentabilidade e mudança climática da PricewaterhouseCoopers na Inglaterra e professora da Universidade de Londres. Na China, o lixo reciclável é processado e retorna aos mercados originais - EUA e Inglaterra - em forma de embalagens ou é utilizado no país para a fabricação de carros e eletroeletrônicos ou na construção civil. Com a crise e o encolhimento da indústria, a demanda por reciclados diminuiu e mais da metade das usinas de reciclagem chinesas fechou, de acordo com o The Guardian. Segundo o jornal britânico Daily Mail, a China comprava metade das 10 milhões de toneladas de recicláveis jogadas fora pela Inglaterra. A competição, nos últimos anos, com as usinas de reciclagem chinesas fizeram fechar muitas das usinas britânica. Tanto que apenas 4 milhões das 8,6 milhões de toneladas de papel produzido em todo o Reino Unido podem ser recicladas lá. O resto tem de ir para fora. O efeito do acúmulo de lixo foi devastador. Em janeiro, a ONG Recycling UK alertou a imprensa britânica para o fato de que nenhuma das 80 usinas de reciclagem de papel na Inglaterra estava aceitando material e disse que a situação continuaria até 2010. Ele calculava já o acúmulo de 100 mil toneladas de lixo aguardando destinação em depósitos, uma pilha que cresce a uma velocidade de 8.300 toneladas por semana. A discussão sobre a destinação de resíduos tem aquecido o debate entre ambientalistas britânicos. Muitos são contra a exportação de lixo reciclável. No lugar disso, sugerem a queima do lixo para gerar energia. Outros defendem que a exportação do lixo ajuda a aquecer as economias em países em desenvolvimento, como Índia e China. Já a União Europeia acertou o corte de aterros em 50% até 2013. Councils ingleses (ou subprefeituras) recebem multas de 32 libras por tonelada por mandar material que poderia ser reciclado para os aterros. Alguns passaram a aplicar multas de até 200 libras aos contribuintes que contaminassem embalagens recicláveis com material inadequado, fazendo com que tivessem de ir para aterros. "Uma questão boa para reflexão: as pessoas reciclam e é como se limpassem a sua consciência. Mas, o que elas deveriam estar fazendo é usar menos. Há um conceito da hierarquia dos 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar). Só que reduzir significa mudar os hábitos e valores, reutilizar é difícil, então o povo recicla e fica com a consciência limpa", diz Isabela.

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