Crise muda rotina de empresas

Empresários são obrigados a pensar em estratégias emergenciais para se adaptarem às limitações de vôos

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Por Redação
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O apagão aéreo está afetando os negócios e mudando a rotina de executivos e funcionários de empresas, com efeitos diretos para a economia. Entre os que dependem de viagens, há quem tenha perdido reuniões importantes, deixado de fechar acordos comerciais ou esteja reinventando a forma de trabalho para se adaptar às limitações impostas pela crise. Os executivos da suíça Novartis dependem de uma série de reuniões no Ministério da Saúde para decidir um investimento da ordem de US$ 500 milhões no Brasil. O projeto - a construção de uma fábrica de vacinas - está parado porque eles não conseguem voar de São Paulo a Brasília. Na segunda-feira, o diretor corporativo da Novartis, Nelson Mussolini, foi obrigado a desmarcar um desses encontros. A reunião foi adiada para hoje, às 11 horas. "Vou sair de casa às 4 da manhã para pegar um avião às 6h45 em Viracopos, que vai para Brasília via Confins. É o único jeito de fazer a viagem", disse Mussolini. "A vida do executivo complicou demais nos últimos tempos. Ele vive estressado, com menos produtividade." No sábado passado, o executivo já havia esperado oito horas no aeroporto para voar de Recife para São Paulo. Para Mussolini, o pior estrago é para a imagem do País no exterior. "Um País parado, sem infra-estrutura, gera dúvidas nas multinacionais. Diante de uma situação como essa, elas se perguntam: será que vale a pena investir?" Para aumentar as chances de viajar, o empresário Claudio Wagner, presidente da Disec, passou a comprar passagem das três companhias aéreas, TAM, Gol e Varig, para o mesmo dia e horário. "Se consigo embarcar com uma delas, cancelo ou remarco as demais." A estratégia traz prejuízos e faz aumentar os custos. "Tenho de arcar com as taxas administrativas cobradas pelas companhias para remarcações e cancelamentos, entre R$ 40 e R$ 140, e não consigo tarifas promocionais. A conseqüência é que o meu custo aumenta. Mas, às vezes, viajar é imprescindível para o negócio." Ontem, porém, nem a estratégia deu certo. Mesmo com as três passagens em mãos, os atrasos no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, eram tão grandes que para um almoço no Rio, às 13h30, Wagner teria de sair de casa às 5h. Isso porque estavam sendo priorizados os passageiros que tiveram vôos cancelados nos dias anteriores. Os serviços da Disec, gerenciamento de segurança de informação para clientes como Visa e Sadia, exige o atendimento dentro de poucas horas a qualquer problema no sistema, como invasão de hackers ou vírus. É comum que um dos 70 gerentes de serviços tenham de viajar ao local. "Estamos reinventando a forma de trabalhar", afirma Wagner. "Isso causa uma ansiedade grande porque somos uma empresa em expansão e corremos o risco de perder a concorrência para outra, descentralizada." A Disec reduziu em 30% o volume de viagens da área comercial, abriu filial no Rio e cancelou as reuniões semanais entre os executivos para evitar a ponte aérea, e passou a fazer videoconferências. Desde o início das reformas em Congonhas, as vendas de equipamentos e serviços de teleconferência aumentaram em 30% na Voitel. Um dia após o acidente com o vôo 3054 da TAM, os 600 funcionários da Sandvik, fabricante de ferramentas para usinagem, foram avisados para não viajar por Congonhas. Com a suspensão na venda de passagens no aeroporto paulista, foram orientados a evitar viajar. Essa semana, a Sandvik fez um teste: dois treinamentos para 60 funcionários de 17 estados brasileiros via videoconferência. "Conseguimos fazer os dois treinamentos em três horas a um custo total de R$ 2.500 sem sair de São Paulo. Foi menos desgastante e mais barato do que viajar", diz o técnico de produtos do departamento de marketing da Sandvik, Marco Tahara, que só precisou se deslocar entre Santo Amaro, sede da empresa, e a Avenida Paulista, onde está a sala da Voitel. A rede Wall-Mart circulou entre os funcionários um comunicado sugerindo que não utilizassem Congonhas. O presidente da Fiat, Cledorvino Belini, que semanalmente deixa Minas, onde está a fábrica do grupo, rumo a São Paulo, onde funciona o escritório da companhia, cancelou a viagem prevista para ontem. Ele passaria três dias na capital paulista mas optou por discutir negócios por telefone ou videoconferência. Já diretor jurídico da montadora, Márcio Cavalcanti, que tem uma reunião inadiável amanhã, decidiu ir de carro. A Marcopolo, maior fabricante brasileira de carrocerias de ônibus, com fábrica em Caxias do Sul (RS), tem evitado mandar executivos e diretores em viagens, privilegiando reuniões por telefone ou videoconferências. "Está difícil montar a agenda", diz o diretor de operações comerciais do mercado internacional, Nelson Gehrke. Nas agências de turismo, o movimento se inverteu. Especializada em gerenciamento de viagens corporativas, a Carlson Wagonlit Travel teve queda no movimento de 30% a 40% desde o dia 17, segundo seu presidente, André Carvalhal. "Estamos trabalhando mais para atender telefonemas e cancelar viagens do que para emitir passagens." "A vida do executivo se complicou demais nos últimos tempos. Agora ele vive estressado, com menos produtividade" Nelson Mussolini Diretor da Novartis

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