Cristovam Buarque confirma voto em Alckmin

Pessimista, o senador acredita que Lula estará sujeito ao autoritarismo

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Por Agencia Estado
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Depois de três semanas de declarações indiretas, o senador Cristovam Buarque confirmou ter votado no candidato Geraldo Alckmin e não poupou críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cristovam vislumbrou um futuro conturbado para o País e até mesmo ameaças de autoritarismo. Ao sair da sala de votação, num colégio de Brasília, o senador, que concorreu à presidência no primeiro turno, afirmou: "Não votei pensando em quem vai ganhar, votei pensando na história. Mas estou preocupado com os próximos meses. Temo que a democracia esteja imprensada entre os que querem o impeachment e o golpe. Vamos passar por momentos difíceis", afirmou. Cristovam avalia que, ganhando o segundo turno, Lula terá como desafio cumprir o que prometeu na campanha. Mas, completa, se tais metas não forem cumpridas, o risco de insatisfação e conturbações será grande. O senador citou o ajuste fiscal, que possivelmente terá de ser realizado, no caso de sua reeleição. "Ele prometeu coisas que são o contrário disso, o que poderá levar a conturbações. Mas a força que o presidente chega e seu carisma, pode levar a tentações autoritárias", completou. O senador julga que a reeleição, por si só, já carrega uma vocação autoritária. "Ela é uma espécie de coroação. O presidente se sente como um monarca. No caso do Lula, se reeleito, os mesmos quadros vão continuar e, com o passivo existente (não-cumprimento das metas de campanha, os escândalos) há o risco de uma crise. E, instalada tal crise, ele poderá tentar passar por cima do Congresso. " O senador não descarta, por exemplo, manobras para tentar um terceiro mandato, a exemplo do que foi feito por Alberto Fujimori. Ou, então, o uso excessivo de medidas provisórias durante o mandato. O pessimismo do senador vai além. Ele acredita que tais manifestações autoritárias não enfrentariam forte oposição. "O PT se acomodou diante do fato de o governo não fazer mudanças, diante dos escândalos e rapidamente se acomodará diante de gestos autoritários. Não teve intelectuais que disseram que na política é preciso pôr a mão na lama. Estas mesmas pessoas podem defender que se coloque algemas nas mãos dos que são contra a sua política" O senador riu ao ser questionado sobre a possibilidade de o PDT integrar um bloco com governo, caso Lula seja reeleito. "Acho muito difícil", afirmou. Ele avalia não haver nem mesmo para discutir uma agenda mínima. "Pelo menos por enquanto." Se houver alterações, no entanto, tal posição pode ser revista. "Você pode fazer parte daquilo que for certo. Mas isso não significa aceitar cargos no governo." Cristovam admitiu que a neutralidade no segundo turno foi prejudicial para o PDT. "Ela significou uma ambigüidade pública. Isso nunca é bom. Mas a escolha, naquele momento, era a menos ruim", avalia. Ele justifica que os dois candidatos não traziam grandes diferenças significativas. E que a imagem do PT ainda estava associada a um partido de esquerda. "Ficamos acuados entre o símbolo e a necessidade de alternância do poder." Ele nega que seu partido tenha temido a "patrulha" ou o confronto com o mito. "Não queríamos confrontar o símbolo." Mas agora, no dia da eleição, quero dizer em quem eu voto. Prefiro a alternância. Cristovam atribui o bom desempenho das urnas de Lula a seu carisma. "Isso não se pode negar. Ele tem habilidade de falar, de compor. Ele atende ao imediatismo. Fala para setores específicos, não para a população como um todo. E administra pensando na data base. Ele não pensa no futuro, na mudança. Mas nos arranjos."

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