Cruz Vermelha alerta para violência contra mídia

Em evento da Abraji, entidade mostra números que apontam aumento das mortes de jornalistas em coberturas de guerras recentes, como a do Iraque

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Por Isadora Peron
Atualização:

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha está preocupado com o aumento da violência contra a imprensa em conflitos armados. "Morreu mais jornalista na Guerra do Iraque do que nos 20 anos de Vietnã", disse Sandra Lefcovich, assessora de comunicação da entidade. O alerta foi feito ontem, em São Paulo, no 6.º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).Segundo dados da organização Repórteres sem Fronteiras, desde o início da guerra no Iraque, em 2003, morreram 230 jornalistas. No Vietnã, entre 1955 e 1975, 63 profissionais de imprensa perderam a vida.Ciente dessa situação, a Cruz Vermelha mantém uma linha direta para jornalistas em missões perigosas, que pode ser acionada pelos meios de comunicação quando o profissional estiver desaparecido ou ferido.O correspondente do Estado em Paris, Andrei Netto, também participou da conferência. Netto, que ficou oito dias preso quando estava na Líbia cobrindo as rebeliões contra o ditador Muamar Kadafi, em março, afirmou: "O mais seguro é não partir". Mas, segundo ele, no momento em que o repórter decide deixar a redação, há algumas medidas básicas que podem ser adotadas para garantir a segurança. O jornalista sugeriu, por exemplo, participar de cursos de treinamento promovidos por órgãos como a própria Cruz Vermelha, o Exército Brasileiro e o Centro Argentino de Treinamento Conjunto para Operações de Paz (Caecopaz). "Esses cursos ensinam comportamentos que se tornam reflexos em momentos de estresse. Eles são uma boa oportunidade para aprender sobre os riscos inerentes a áreas de conflito", explicou.Além disso, Netto disse ser importante ter noções de primeiros-socorros, levar colete à prova de bala e capacete, e manter contato constante com os editores e familiares, para que eles tenham condições de acompanhar os passos do jornalista, mesmo que à distância. Na volta para casa, Netto destacou a necessidade de apoio psicológico, por conta do estresse pós-traumático que decorrem dessas situações. "Ninguém está preparado para ser preso e pensar 24 horas por dia que vai morrer."Netto destacou ainda que jornalistas não correm riscos apenas ao cobrir guerras em países estrangeiros, mas também em favelas e conflitos agrários dentro do Brasil. "Regiões de conflito não são apenas áreas remotas do mundo, elas podem estar do lado da nossa casa."Homenagem. O Congresso da Abraji começou ontem e segue até amanhã. Hoje, às 11h, o jornalista Rosental Calmon Alves, diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, será homenageado em sessão solene. À tarde, o diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, fala sobre o novo projeto gráfico do jornal Estado, lançado em março de 2010.PROGRAMAÇÃOHoje9h: WikiLeaks: Impactos dos vazamentos para o jornalismo investigativo 11h: Sessão solene: homenagem a Rosental Calmon Alves14h: Novos projetos gráficos16h: Acesso a Informações Públicas: exemplos que vêm de fora 16h: O jornalismo e os tablets: quando a forma é conteúdo Amanhã9h: Investigação em Brasília: caminhos e descaminhos do dinheiro público 11h: Investigação em esportes: conluios da Fifa e do COI 11h: Lei de Acesso a Informações Públicas no Brasil: Mapa de Acesso 2011 14h: Cobertura política em Brasília: a era dos escândalos16h: O futuro do jornalismo investigativo

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