Cúpula da polícia do Rio é corrupta, acusa relator da ONU

Acusação foi feita nesta segunda-feira, 2, pelo relator da ONU contra assassinatos sumários, Phillip Alston

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Por Jamil Chade
Atualização:

A polícia carioca é corrupta, inclusive sua cúpula. A acusação foi feita nesta segunda-feira, 2, pelo relator da ONU contra assassinatos sumários, Phillip Alston, após falar ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre a situação das violações no Brasil. Alston não mede palavras para falar da polícia. "A corrupção vem de cima, da cúpula", alertou, em entrevista ao Estado. O australiano conta que não foi recebido pelo governador do Rio de Janeiro durante sua visita ao País no final do ano passado, mas não deixou de dar sua opinião: "Trata-se de um governo populista e que não tem estratégia para lidar com o crime". Eis os principais trechos da entrevista:   O sr. fala em seu relatório em um envolvimento da polícia com o crime organizado. Como se explica essa situação? Alston - A crise de segurança é muito grave. Mas os fatos são claros. Gangues e grupos criminosos tem entre seus membros policiais. O corrupção não vem apenas de baixo ou está apenas nas camadas inferiores da polícia. A corrupção vem de cima, da cúpula.   Como o sr. define a estratégia do governo de atuar nas favelas com operações quase militares? Alston - Não há uma estratégia para lidar com a crise. Trata-se de um governo populista e que não tem estratégia para lidar com o crime. Operações não são estratégias. Essa é a verdade. O governo não poderá resolver o problema em dois ou tres anos e, então, opta por sequer começar a trata-lo de forma séria. Prefere ações com muita visibilidade mas poucas eficiência para esconder o fato de que não há uma estratégia.   Então como o sr. avalia o envio do exército para as favelas? Alston - Isso nunca vai resolver nada. O governo precisa entender que é a disparidade social que gera a violência. Enquanto a população das favelas ver o governo apenas na imagem de soldados e polícias, jamais vão ser aliados contra os grupos criminosos. Se essa mesma população tiver acesso a serviços prestados pelo estado, poderão começar a ver o governo com outros olhos. Hoje, a única imagem do estado nas favelas é a do policial que mata.

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