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Curso de garçom quer combater o racismo

Por Agencia Estado
Atualização:

O Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap) está oferecendo um curso de preparação de bufês e planeja outro de garçom para jovens carentes do Rio. A idéia surgiu a partir da constatação de que, embora representem cerca de 40% da população do Estado, os negros e mulatos raramente são contratados para servir clientes em bares e restaurantes do Rio. Pressão sobre bares e restaurantes A afirmação é do presidente do Ceap, Ivanir dos Santos, que luta para acabar com o racismo que impede aqueles que não são brancos de trabalhar como garçons e maîtres. O curso conta com o apoio do programa Comunidade Solidária, que deve doar o material didático. "Temos que pressionar donos de bares e restaurantes a contratar negros", afirmou Ivanir dos Santos. Curso já começou Há uma semana, cerca de 30 alunos negros moradores do Morro da Mangueira, na zona norte, estão recebendo aulas do primeiro módulo do curso, que incluem noções de cidadania, higiene e apresentação pessoal, além de aulas de Português e Matemática. "Vamos acabar com essa associação da imagem do negro à da sujeira e da má aparência e resgatar a auto-estima dos alunos. Eles estão aprendendo a se apresentar bem e prestar atendimento de qualidade", disse uma das coordenadoras do projeto, a psicóloga Elisa Lopes. Mercado é preconceituoso O presidente da Associação Brasileira de Proprietários de Restaurantes (ABPR), Rafael Zibelli, admitiu que o mercado é preconceituoso em relação aos negros. "Não sou racista, nunca deixei de contratar um funcionário porque ele era de cor. Mas percebo que os negros são raros nesse ramo", afirmou Zibelli. "Os clientes não gostam de ser atendidos por garçons negros. Há também uma falta de tradição no segmento, ao contrário do que acontece com os nordestinos, que estão presentes em todos os restaurantes." Petiscos A parte prática será ensinada na segunda parte do curso, quando os jovens aprenderão a preparar mesas para festas e eventos. "A ênfase é em petiscos, salgadinhos, mesas de frios e saladas. Conseguimos a colaboração de maîtres e cozinheiros", contou a professora Ruth Costa, uma das idealizadoras do programa. Segundo ela, a procura pelas aulas tem sido grande. "Os adolescentes do morro querem participar da sociedade e agora vão ter que provar que são competentes para se firmar no mercado de trabalho."Estão previstas ainda visitas a grandes estabelecimentos da cidade. O curso dura cinco meses, num total de 420 horas de aula com mais 180 horas de estágio num restaurante. Cada aluno recebe uma bolsa de R$ 50. Estímulo O dinheiro é um estímulo para alunas como Eloá Arruda, de 15 anos. "A bolsa nos ajuda. Mas o mais importante é que, ao terminar o colégio, vou ter uma profissão", conta Eloá, que cursa a oitava série. "No morro, há muitas festas, mas poucas pessoas sabem enfeitar as mesas. Cada evento pode render até R$ 200." A estudante Viviane Costa, de 18 anos, não perde uma aula. "Os professores são legais e me incentivam bastante. Quero trabalhar com eventos."

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