Dançarino foi atingido por bala antes de morrer

Laudo de necropsia aponta que DG, como era conhecido, levou um tiro nas costas, na região lombar, que saiu pelo ombro

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Por Thaise Constâncio
Atualização:

Atualizada às 22h10

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RIO - Laudo do Instituto Médico-Legal (IML) atestou que o dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, de 26 anos, foi baleado antes de morrer. A informação foi confirmada nesta quarta-feira, 24, pelo delegado Gilberto Ribeiro, da 13.ª Delegacia de Polícia, em Ipanema, zona sul do Rio. O corpo do rapaz foi encontrado anteontem no pátio de uma creche no Morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana.

O tiro teria atingido o rapaz pelas costas, na região lombar, e saído pelo ombro, depois de perfurar um pulmão. Segundo o laudo, havia no corpo "uma ferida com orla de escoriação e zona de enxugo, compatível com ferimento de entrada de projétil de arma de fogo", e "uma ferida com bordos irregulares e evertidos, compatível com ferimento de saída de projétil de arma de fogo".

Já a declaração de óbito do rapaz afirma que a causa da morte foi "hemorragia interna decorrente de laceração pulmonar decorrente de ferimento transfixante do tórax".

Para Levi Inimá de Miranda, ex-chefe de Medicina Legal do Exército e perito legista aposentado da Polícia Civil, não há dúvidas de que a causa da morte foi o tiro. "O disparo foi de trás para frente e debaixo para cima, o que comprova que ele estava em um nível acima do atirador. Isso corrobora as declarações dos moradores, que disseram que a vítima estava em cima de um muro, pulando de uma laje para outra. Ao cair de uma altura de dez metros, ele provavelmente bateu a cabeça no chão, o que explica o afundamento no crânio", disse Miranda.

O entendimento do perito, o laudo de necropsia e a declaração de óbito contradizem a versão da Secretaria Estadual de Segurança. Durante o protesto de moradores do Pavão-Pavãozinho que terminou em tiroteio e confusão nas ruas de Copacabana, o órgão divulgou no Twitter que "o laudo de local apontou que as escoriações de Douglas são compatíveis com morte ocasionada por queda".

Depoimento. Após depor, a auxiliar de enfermagem Maria de Fátima Silva, de 56 anos, mãe do dançarino, disse ter certeza de que o filho foi torturado e morto por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). "A UPP é uma farsa, uma mentira. Meu filho não morreu de queda. Tenho certeza de que (os policiais) torturaram e mataram ele."

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Maria de Fátima disse que o corpo de Douglas e seus documentos estavam molhados. "Não choveu entre a noite de segunda e a madrugada de ontem (terça-feira)." Para ela, a cena do crime foi adulterada. Moradores teriam visto PMs com luvas cirúrgicas. "Lavaram a cena do crime. E para que os PMs estavam com luva cirúrgica? Desde quando PM é perito?"

A PM abrirá um procedimento para verificar a conduta dos policiais. Segundo o coronel Frederico Caldas, coordenador das UPPs, ainda não é possível estabelecer ligação entre o tiroteio na madrugada de terça-feira entre PMs e traficantes e a localização do cadáver do dançarino na creche. Participaram do confronto oito PMs, que prestarão depoimento. Suas armas foram apreendidas.

O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) disse, em nota, que "determinou empenho total à Policia Civil". Afirmou também que "aguarda o resultado das investigações para tomar as medidas cabíveis".

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