Depois de se reunir com o ministro da Defesa, Waldir Pires, nesta quinta-feira, o deputado Carlos Willian (PTC-MG), relator da comissão criada para investigar os problemas no setor aéreo, disse que a situação é crítica e que "o país é totalmente refém dos controladores". Segundo o relator, Pires informou que no momento do apagão no sistema de comunicação, na terça-feira, não existia um técnico capacitado para resolver o problema de imediato, mas disse que estão sendo tomadas providências para resolver esse tipo de problema. Na conversa, na qual participaram também os deputados Alceu Collares (PDT-RS) e Alberto Fraga (PFL-DF), o Ministério da Defesa apresentou um documento admitindo que está sendo investigada a possibilidade de sabotagem no sistema de comunicação de rádio, que deixou de funcionar por completo na terça-feira. "Restabelecido o contato, o Cindacta iniciou investigação com o apoio da PF para apurar as causas do problema. Até mesmo a hipótese de sabotagem será apurada", afirma o documento. O Ministério informou, segundo os parlamentares, que as medidas para resolver os problemas já foram tomadas como a contratação emergencial de controladores, transferência de pessoal para Brasília, abertura de concurso e criação de grupo de trabalho que já está em funcionamento para avaliar a crise. Segundo os deputados, o ministro da Defesa informou também que a pane no sistema de comunicação de terça-feira não tem nenhuma ligação com o problema ocorrido no feriado de Finados, quando houve uma operação-padrão por parte dos controladores. Pires também teria admitido que faltam 150 controladores para tornar o serviço mais eficiente. Os parlamentares da comissão pretendem fazer uma vistoria no sistema na próxima terça-feira. Investigações Embora a Polícia Federal não tenha encontrado indícios de sabotagem nos equipamentos de áudio do centro de controle aéreo de Brasília (Cindacta-1), o comando da Aeronáutica continua investigando essa possibilidade. Oficiais ouvidos pelo Estado voltaram a dizer que os sistemas são novos - passaram por atualização no ano passado - e a pane inédita, no mesmo local onde controladores de vôo organizaram uma operação-padrão, ´é, no mínimo, estranha.´ Até a noite de quarta, porém, técnicos não haviam obtido provas de que o apagão tenha sido proposital. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) acompanha informalmente o caso, mas, até agora, não tem indícios de que a pane tenha sido criminosa. Consideram estranho, porém, o fato de o sistema ter sofrido uma falha repentina, até então desconhecida pela Aeronáutica. ´Não foi um simples corte de fios. Se alguém fez isso, conhecia profundamente o sistema´, afirma um oficial da Força Aérea Brasileira (FAB). Ele explica que, por três horas, todas as 20 freqüências de rádio do Cindacta-1 ficaram inoperantes. ´Houve uma desconfiguração completa dos servidores.´ Foi a primeira vez, desde a criação da atual estrutura dos Cindactas, há 23 anos, que uma pane desse tipo foi registrada. Acuados pelo Inquérito Policial-Militar que apura o desrespeito às normas militares durante a operação-padrão, controladores de Brasília ficaram revoltados. O governo decidiu comprar novos equipamentos de controle de vôo. A Sitti já estuda, a pedido da Força Aérea, a instalação de centrais de comunicação para reforçar o sistema. Parte desses equipamentos pode entrar em funcionamento na semana que vem. Controladores Para contestar as suspeitas de sabotagem e mostrar que as falhas em freqüências de comunicação via rádio entre o Cindacta-1 e as aeronaves são comuns, controladores de vôo têm a seu favor o registro no livro de ocorrências da unidade. No sábado, por exemplo, no setor 14, que monitora vôos do Rio, as freqüências saíram completamente do ar por dez minutos. Houve corre-corre entre os operadores, que não conseguiam falar com as aeronaves. O defeito repetiu-se no domingo. Um dos operadores disse que os episódios do fim de semana deixaram o Cindacta-1 em alerta. Por isso, na terça-feira, quando ocorreram dois apagões das freqüências, controladores e seus superiores decidiram paralisar todas as operações no País. No setor 7, onde ocorreu o acidente entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, controladores afirmaram que há um ano a freqüência 135.9 só transmite com eco para as aeronaves, causa de queixas dos pilotos. Na outra freqüência usada na área, a 125.2, o áudio, quando chega aos aviões, muitas vezes é impossível de ser compreendido. No setor 5, a freqüência 124.2 tem som tão baixo que é preciso repetir várias vezes a instrução.