No primeiro dia de depoimentos da CPI da Pedofilia em Catanduva (SP), a delegada de polícia Rosana da Silva Vani admitiu aos senadores que avisou com antecedência o advogado do médico Wagner Rodrigo Brida Gonçalves sobre a apreensão do computador que pretendia fazer na casa do cliente dele, no dia 20 de fevereiro. O médico, acusado de pertencer a uma rede de pedófilos que abusou de 40 crianças na cidade, teve a prisão decretada na semana passada. Ele estava foragido até a noite de ontem, mas o Tribunal de Justiça concedeu habeas corpus e ele deverá depor hoje, assim como o empresário José Emmanuel Diogo, que também teve prisão decretada, fugiu, mas obteve habeas corpus. Depois de avisar o advogado de que cumpriria um mandado de apreensão do computador do médico, a delegada deu tempo para que o advogado ligasse para o cliente e o avisasse da apreensão. A consequência foi que, ao entrar na casa do médico, os agentes encontraram apenas o monitor e o modem ligados. A CPU havia sumido. A declaração da delegada irritou senadores. "Você entregou o jogo ao adversário aos 47 minutos do segundo tempo", disse o senador Magno Malta (PR-ES), presidente da CPI. Segundo o senador, o erro, admitido pela delegada, é "primário" para quem tem 18 anos de profissão. Outra delegada ouvida foi Maria Cecília Sanches, que comandou o primeiro inquérito sobre o caso, sem apontar os suspeitos de classe alta envolvidos. Ela disse que apressou o encerramento do inquérito, com a prisão de dois acusados - o borracheiro José de Melo e seu sobrinho William de Souza -, mas deixou em aberto as investigações para encontrar outros suspeitos. Isso ocorreu, segundo ela, antes de ser chamada para participar de reforço policial no litoral. Malta disse que o depoimento da delegada foi "inconsistente, fraco e ruim". A CPI vai enviar os depoimentos para a Corregedoria da Polícia Civil. Outros que depuseram foram o pai e a mãe de três crianças abusadas e o gestor da ONG Instituto Pró-Cidadania de Catanduva, Geraldo Corrêa, que acusou o Ministério Público de omissão ao receber as primeiras denúncias. Os depoimentos do borracheiro e de seu sobrinho, previstos para ontem, foram adiados.