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Delegado-geral do Pará terá de se explicar, diz governadora

Ana Júlia não afirma se irá afastar Raimundo Benassuly, que disse que garota presa teria 'problemas mentais'

Foto do author Leonencio Nossa
Por Tania Monteiro e Leonencio Nossa
Atualização:

Em uma tumultuada e rápida entrevista no Palácio do Planalto, após audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), evitou anunciar o afastamento do delegado-geral do Estado, Raimundo Benassuly, que disse que a menor que ficou presa por um mês em uma cela com 20 homens que a submeteram a violências sexuais deveria ter "algum problema mental". Ela acrescentou, porém, que irá chamá-lo para "conversar e pedir explicações". IML conclui que garota presa no Pará é menor De cada 10 brasileiras, 3 já sofreram abuso Menor é processada oito vezes como adulta A governadora afirmou que questões do Pará serão resolvidas no Estado. "Em relação ao que vai acontecer (com o delegado), medidas administrativas em relação à segurança pública do Pará, eu, como governadora, tomarei no Pará", declarou, cautelosa, a governadora petista. Pouco antes, o delegado Benassuly, que é o chefe da Polícia Civil do Pará, causou indignação na platéia que estava em uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado ao afirmar que a jovem mantida presa na mesma cela com 20 detentos em Abaetetuba "tem, certamente algum problema, uma debilidade mental, porque em nenhum momento manifestou sua menoridade penal." Segundo a governadora, as declarações do delegado "são inadmissíveis". E prosseguiu: "Não existe nenhuma justificativa e nós não vamos tolerar". Ana Júlia anunciou que desde que assumiu o governo, existiam 94 vagas femininas nas cadeias do estado, número que ela afirma que dobrou. Hoje, segundo sua assessoria, são 204 vagas para mulheres presas no Pará. A governadora reconheceu, no entanto, que, dos 132 municípios do Pará, 123 não têm espaços apropriados para as mulheres. "Nosso governo está fazendo todos os espaços com locais apropriados", declarou. A governadora informou que o governo federal vai liberar R$ 89,9 milhões para o Estado. Os recursos estavam bloqueados e serão aplicados na construção e reforma de penitenciárias, aquisição de equipamentos para as polícias civil e militar e para os bombeiros, realização de ações sociais, auxílio-saúde, qualificação dos profissionais de segurança no atendimento a mulheres em situação de violência, implementação de juizados de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, delegacias especializadas no atendimento à mulher e criação de núcleos especializados nas defensorias públicas. As verbas, segundo a governadora, serão destinadas também à construção de dois presídios femininos em Marabá e Santarém, além da ampliação do presídio de Abaetuba para abrigar a ala feminina. De acordo com a governadora petista, o presidente Lula determinou ao Ministério da Justiça que dê "todo o apoio institucional, financeiro e político às ações que o governo do Estado já está tomando". Indagada se a mesma menor já havia sido presa outra vez, em junho, a governadora declarou que, quando tomou conhecimento do fato, tomou as medidas efetivas. "Nós tomamos conhecimento e tomamos todas as medidas. Afastamos todas as pessoas envolvidas, abrimos inquérito, editei um decreto que ajudou a desburocratizar a transferência de presos e determinei uma varredura em todo o sistema profissional do Estado, nas delegacias, e vou solicitar o acompanhamento do Ministério Público. Estas foram todas as medidas enérgicas e imediatas que governo do Estado tomou, e eu espero que os outros Poderes façam a mesma coisa", desabafou a governadora. "Nós estamos agindo de forma firme para mudar a realidade caótica que nós encontramos." Na entrevista, a governadora informou ainda que uma varredura será feita em 15 dias nas delegacias e, durante um ano, um grupo integrado por pessoas do governo do Estado e do Ministério Público ficarão acompanhando todos os locais. "Estas medidas são exatamente para que nenhum tipo de questão como esta se repita, porque eu me senti duplamente indignada, como governadora e como mulher", afirmou Ana Júlia.

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