Delegado-geral se demite e será substituído por instrutor da Swat

Jordão anunciou punição a acusados em casos de corrupção, mas denúncias marcaram gestão

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Foto do author Marcelo Godoy
Por Marcelo Godoy e Josmar Jozino
Atualização:

Menos de nove meses depois de ser nomeado, Mário Jordão Toledo Leme pediu ontem demissão do cargo de delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, alegando razões de ''''foro íntimo''''. Jordão entregou o cargo, segundo delegados ouvidos pelo Estado, por causa de problemas de relacionamento com o secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão. Jordão e o secretário negam. ''''Ele (Jordão) considerou que não era mais conveniente o sacrifício de sua vida pessoal'''', disse o delegado Antônio Carlos Bueno Torres, um de seus assessores. A prova de que não haveria atrito é que o delegado estaria cotado para assumir em breve um cargo no governo. Jordão entregou a carta de demissão no dia 6. Naquele dia ocorreu mais um episódio embaraçante, envolvendo a Polícia Civil: a nomeação do delegado André Di Rissio, preso três vezes por corrupção, como professor da Academia de Polícia. Marzagão negou que a nomeação de Di Rissio tenha provocado a mudança. ''''Ele pediu exoneração alegando foro íntimo. Lamentei, mas aceitei sua saída.'''' O novo chefe da polícia será o delegado Maurício José Lemos Freire, um atirador de elite e especialista em operações de resgate, que dirigia o Departamento de Identificação e Registros Diversos (Dird). Apesar dos atritos, a saída de Jordão pegou o governo de surpresa - esperava-se que ocorresse no fim do ano. A cúpula não tinha um nome para substituí-lo. À tarde, cinco apareceram na loteria de apostas sobre quem substituiria o delegado-geral. O secretário-adjunto, Lauro Malheiros Neto, defendeu a nomeação de Freire e conquistou o apoio de Marzagão. Ex-executivo do Bank Boston, onde trabalhou com o atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, Jordão chegou ao cargo credenciado pelas ações contra a criminalidade na Cracolândia, centro de São Paulo, enquanto ocupou a Seccional Centro. Defensor de uma ação integrada entre a Segurança e os demais órgãos da administração para a recuperação de áreas degradadas, caiu nas graças do então prefeito José Serra e dos secretários Aloysio Nunes Ferreira (Governo) e Andrea Matarazzo (Subprefeituras) - os dois últimos compareceram, no ano passado, à festa de aniversário do então delegado-seccional. Mas se os contatos políticos ajudaram Jordão, eles nem sempre eram bem compreendidos no meio. Provocavam ciúmes entre policiais graduados. CHOKR Durante sua gestão, Jordão enfrentou uma série de denúncias de corrupção contra policiais civis. A mais grave envolveu a contabilidade encontrada em maio com o advogado Jamil Chokr, que defende donos de máquinas caça-níqueis. Os documentos demonstrariam o pagamento de propina em 84 dos 93 distritos policiais da cidade. Jordão mandou afastar os suspeitos de envolvimento - 92 delegados e investigadores tiveram os sigilos fiscal e bancário quebrados pela Justiça. Outro caso rumoroso foi a denúncia de que policiais do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) tomaram US$ 800 mil do traficante de drogas colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía, preso pela Polícia Federal em agosto. Jordão afastou os envolvidos nos escândalos que tivessem cargos de chefia. Ele ainda foi responsável por trazer para a polícia de São Paulo métodos usados pela PF, como as megaoperações contra o crime organizado. Em duas delas, 4 mil pessoas foram presas. Jordão cumprimentou ontem Freire por sua nomeação. Policial desde 1977, quando foi nomeado investigador, o novo delegado-geral trabalhou no antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Em 1981, passou no concurso para delegado. A partir daí, sua carreira foi marcada pela sua formação em ações especiais. Em 1991, ele se tornou o único brasileiro credenciado como instrutor da Swat da polícia de Miami (EUA). Pouco depois, foi um dos fundadores do Grupo Especial de Resgate (GER). Treinado em ações antiterror e de resgate, o GER emprestou seus atiradores de elite para a proteção do presidente americano George W. Bush em sua visita ao Brasil em março. AS DENÚNCIAS Caça-níqueis: PMs apreenderam em 25 de maio a contabilidade do advogado Jamil Chokr, que indicam o pagamento de propina para 84 dos 93 DPs. A polícia só afasta dos cargos de chefias os policiais suspeitos após o Estado publicar a contabilidade, em 16 de junho. Abadía: Policiais do Departamento de Narcóticos são acusados de achacar três vezes integrantes do bando do traficante de drogas colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía.Um dos casos ocorreu em 2006, mas os demais foram neste ano. Têmis: Escutas da PF flagraram advogados e policiais combinando o pagamento de propina para permitir o funcionamento de bingos irregulares. Di Rissio: Processado por crimes e corrupção, o delegado André Di Rissio foi aprovado no concurso para ser professor da Academia de Polícia.

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