BRASÍLIA - A denúncia de contaminação de água por urânio encontrada no município de Lagoa Real, no sudoeste da Bahia, será tema de um seminário organizado por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará.
A II Jornada Antinuclear do Ceará, realizada pelo Núcleo Tramas, um grupo interdisciplinar de pesquisa vinculado à Faculdade de Medicina da universidade cearense, ocorre nos dias 15 e 16 de novembro. Durante o encontro, será discutida denúncia publicada pelo Estado no dia 22 de agosto, a qual revelou que a estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) omitiu informações sobre a contaminação de um poço na zona rural de Lagoa Real.
Órgãos da Bahia e do governo federal, como Ibama, Vigilância Sanitária e Ministério do Meio Ambiente, só vieram a saber sobre a contaminação após a denúncia. A INB, conforme apontam seus próprios laudos técnicos, já tinha conhecimento há sete meses sobre a contaminação, mas não informou os órgãos de controle.
"Nós, do Núcleo Tramas/UFC e da Articulação Antinuclear do Ceará, estamos acompanhando atentos o desenrolar do caso de Lagoa Real. Esse é um tema que será abordado em nossa Jornada, inclusive, traremos uma pessoa da região para falar dos impactos, incertezas e modos de agir da INB, durante nosso seminário", disse Rafael Dias de Melo, biólogo e mestre em desenvolvimento e meio ambiente, pesquisador do Núcleo Tramas/UFC e Articulação Antinuclear do Ceará.
Segundo Melo, é preciso esclarecer tecnicamente as causas da contaminação na Bahia e fazer com que os Estados aprofundem seus estudos quanto à qualidade das águas submersas e do ar. O Ibama recebeu informações preliminares da INB sobre o caso de Lagoa Real, mas informou que não é possível ainda chegar à uma conclusão efetiva sobre as causas da contaminação. Independentemente de ser resultado de um processo natural ou exploratório, o órgão ambiental informou que a INB deveria ter comunicado imediatamente os órgãos de controle sobre a ocorrência, o que não fez. A INB nega irregularidades de procedimento no caso.
"Queremos fazer eco com a nossa Jornada para que a fiscalização dos poços profundos, bem como do nível de radônio ao qual a população está exposta, seja urgentemente intensificada", afirmou.
A atenção dos pesquisadores cearenses sobre o assunto não é causal. O Ceará possui a maior mina de urânio do Brasil. Localizada entre os municípios de Santa Quitéria, Itatira e Madalena, a chamada "mina de Itataia" contém uma grande reserva de urânio associada a fosfato, minério usado para produção de fertilizantes.
A INB, que explora há 15 anos uma mina de urânio em Caetité, município vizinho de Lagoa Real, já deu entrada no processo de licenciamento da mina Itataia e aguarda sinal verde do Ibama para tocar o empreendimento. No ano passado, o projeto, que prevê uma sociedade com a empresa Grupo Galvani, foi aprovado pela União, com previsão de US$ 350 milhões.
O evento prevê a realização de seminários em comunidades próximas à jazida deItataia e uma audiência pública no município de Santa Quitéria.