Denúncia derruba diretor dos Correios

''Estado'' revelou que coronel era testa de ferro de argentino, dono da MTA; empresa é pivô de lobby que provocou demissão de Erenice

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Por Karla Mendes
Atualização:

O presidente dos Correios (ECT), David José Matos, afirmou ontem ao Estado que o coronel Eduardo Artur Rodrigues Silva deixa hoje a diretoria de Operações da estatal. O diretor, que sai do cargo menos de dois meses depois de sua posse, acertou ontem que vai entregar a carta de demissão hoje ao ministro das Comunicações e ao presidente da República."Assim que eu receber a carta (de demissão), vou levá-la a quem de direito", disse Mattos, referindo-se ao ministro das Comunicações, José Artur Filardi. O próprio coronel confirmou, depois da reportagem publicada ontem pelo Estado, a decisão de deixar a diretoria. "Eu vou pedir demissão. A minha família está destroçada. Não aguento mais". A partir de amanhã, acrescentou, voltará a ser consultor de empresas aéreas, mercado em que atua há 15 anos. "Já falei com o presidente dos Correios que vou embora."    

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Na primeira reportagem sobre o caso, dia 29 de agosto, o Estado revelou conflito de interesses por trás da nomeação do coronel Artur. Ele assumiu um cargo que administra as contratações das empresas privadas que prestam serviços de transporte de carga aérea para os Correios, mesmo tendo presidido a Master Top Linhas Aéreas (MTA). A empresa tem contratos no valor de R$ 60 milhões com os Correios. Ao assumir, no dia 2 de agosto, o coronel entregou o comando da MTA à filha, Tatiana Blanco, o que deixou o diretor na condição de contratante e contratado.

 

 

 

 

 

 

Como revelou ontem o Estado, o coronel Artur é testa de ferro do empresário argentino Alfonso Conrado Rey, verdadeiro dono da MTA. Este se beneficiava do tráfico de influência feito em seu favor por Israel Guerra, filho da ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra. Quando a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) suspendeu a licença de voo da MTA, foi Israel quem conseguiu, numa operação que juntou tráfico de influência e cobrança de propina - como revelou a Veja da semana passada - a certificação da transportadora. Ex-coronel da Aeronáutica, Artur faz parte de um grupo de executivos e advogados que tem uma rede de empresas de fachada espalhadas por Uruguai, EUA e Brasil. Eles movimentam dinheiro para um casal de laranjas brasileiros, como provam documentos do Banco Central. Pulo maior. Os documentos mostram também que o grupo trabalha para fazer da MTA o embrião da empresa de logística e carga aérea que o governo Lula promete criar após as eleições, um negócio de cerca de R$ 400 milhões. Os documentos mostram ainda que o coronel Artur se envolveu pessoalmente no esquema montado para viabilizar a MTA no Brasil com recursos externos e driblar a legislação, que é clara: o capital estrangeiro não pode superar 20% em empresas aéreas. Por isso, foi criada, de 2005 para cá, a rede com pelo menos seis empresas de fachada com sede em apenas dois endereços: em Campinas e em Montevidéu, no Uruguai. Em outra ponta, sustentam o esquema empresas com sede nos EUA, ligadas a Rey. Atualmente, a MTA é dirigida no Brasil pelo peruano Orestes Romero. Mas no papel os ex-sogros da filha do coronel, Tatiana Silva Blanco, são os donos, na condição de "laranjas". Ao Estado, o coronel desabafou: "Eu tenho 61 anos e estou saindo frustrado, por não poder passar meus conhecimentos para a empresa. Tudo que eu queria era consertar a rede postal noturna, sei que posso deslanchar o departamento de logística (da estatal)". Disse que seria "a primeira vez" que um aviador chegaria à direção da empresa. "Eu poderia mudar a rede postal noturna, mas perdi a vontade. Não quero mais ir lá", disse, ao fim de seus 48 dias na estatal. O presidente da ECT antecipou que não iria tentar impedir a saída do coronel Artur. "Pedir para quê? Não vale a pena. Não adianta dizer a verdade (para a imprensa)", afirmou David Matos. "Vou chamar os dois para virem ao ministério nesta segunda, para conversar", disse Filardi. "Família destroçada". O coronel observou que não está se desligando da empresa "com medo de A, B ou C" ou em função das denúncias. "Se a minha família não estivesse destroçada emocionalmente, eu ia continuar lá. Não fiz nada de errado." Trazendo à memória o caso da Escola de Base, em São Paulo, o coronel prosseguiu: "Vocês acabaram com a minha vida. Não durmo direito e, quando falo com a minha mulher e minha filha, os olhos delas se enchem de água. Não aguento mais." Ele admitiu conhecer o empresário Alfonso Conrado Rey, mas negou que seja seu "testa de ferro" na MTA. "Nunca fui dono, nem presidente, nem sócio da MTA. Me mostre qualquer documento que prove isso. Estou pronto para responder qualquer investigação". Ele negou ainda que tenha sido convidado por indicação de Roberto Teixeira, compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A indicação, garante, partiu do senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO). Leomar nega essa informação.PONTOS-CHAVENomeaçãoNo dia 2 de agosto deste ano, o coronel Eduardo Artur Rodrigues assumiu a diretoria de Operações do Correios, numa "reformulação administrativa" comandada por Erenice Guerra"Direto da Fonte"Na mesma semana, a colunista do "Estado" Sonia Racy revelou a influência do coronel para viabilizar a constituição da empresa cargueira Master Top Linhas Aéreas (MTA)LaranjasA MTA foi registrada em nome de Anna Rosa Pepe Blanco Craddock e Jorge Augusto Dale Craddock, mas o verdadeiro dono é o empresário argentino Alfonso Conrado ReyEsquemaOntem, o "Estado" revelou que o coronel é testa de ferro de Alfonso e faz parte de um grupo de executivos que tem uma rede de empresas de fachada espalhadas pelo Uruguai, Brasil e EUA

 

 

 

 

 

 

 

 

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