Denúncias de intolerância religiosa crescem 3.606% nos últimos 5 anos

Para antropóloga da UFF, dado da Secretaria de Direitos Humanos mostra a relevância da abordagem do tema na redação do Enem 2016

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Por Sara Abdo
Atualização:

SÃO PAULO - O número de denúncias de intolerância religiosa aumentou 3.606% nos últimos cinco anos, segundo relatório da Secretaria de Direitos Humanos, vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. O dado mostra a relevância da abordagem do tema "O combate à intolerância religiosa no Brasil" na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2016.

Em junho de 2015, uma menina de 11 anos foi atacada com uma pedrada na cabeça ao sair de um culto de candomblé na Penha, na zona norte do Rio Foto: Katia Marinho/Facebook/Divulgação

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O Disque 100, principal canal da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, passou a receber registro desse tipo de violência em 2011, quando houve apenas 15 denúncias. Em 2015, foram denunciados 556 casos. Para especialistas, o aumento do número é consequência do esclarecimento de que esse conflito é crime. 

A antropóloga Christina Vital, do departamento de Sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), avalia que o Brasil começou a viver, a partir do anos 1990, um incômodo cultural. Segundo ela, o aumento do número de igrejas e fiéis pentecostais, principalmente na periferia e nas favelas, revelou a acomodação social em que vivia a Igreja Católica, que ao longo da história promoveu a intolerância entre religiões. 

"Agora estamos percebendo a importância de as novas gerações estarem atentas à intolerância religiosa."

A antropóloga lembrou o aumento de ações dos governos e dos movimentos sociais em aumentar os canais de comunicação, publicidade e campanhas de conscientização do que é o crime de intolerância religiosa. 

A especialista ressaltou que a maior incidência desses crimes é contra as religiões africanas. O dado está em linha com o relatório da Secretaria de Direitos Humanos, que aponta ser crescente o número de casos de terreiros invadidos e queimados.

Em maio deste ano, o governo federal, ainda no comando da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), inaugurou o programa "Filhos do Brasil" para conscientizar a população e diminuir casos violentos de intolerância.

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Christina analisa que, mesmo a com a troca de governo, o investimento no programa foi mantido e que o comitê responsável continua agindo, embora com menos autonomia. Outra ação federal foi em 2007, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) oficializou o dia 21 de janeiro como o Dia Nacional do Combate à Intolerância Religiosa.

Internacional. Para Christina, não há comparação direta entre os conflitos de intolerância religiosa no Brasil e em cenários internacionais como a França. No caso brasileiro, o que há é um fenômeno interno entre brasileiros nascidos e criados. "É um conflito entre cristãos." Segundo a antropóloga, o que ocorre na França é um conflito entre cristãos e não cristãos.